Exatamente.
Santas expressões idiomáticas que me fizeram passar algumas poucas e boas.
Como eu contei no post da
Pocahontas, sou estrangeira em terra estrangeira desde os 9 anos.
E gosto da minha vida livre de
Zíngara, de
Gypsy, de
Cigana. Já pensei até em comprar um
Vurdón e viver nele (o Vurdón é a carroça cigana com tenda redonda por cima!).
O pó da estrada nos ensina muitas coisas. A primeira delas é que você é, foi e sempre será você mesmo.
Sempre que precisar, sabe que é com você mesmo que tem que contar em primeiro lugar. Aprende a confiar em si e a resgatar tudo o que aprendeu.
A segunda coisa é que não importa aonde você for, nunca fugirá de você. Portanto, desista se você tem a idéia de
"rodar o mundo" pra fugir dos problemas. Eles, ou melhor, o causador da maior parte deles irá junto de você.
A terceira coisa é que não adianta você se camuflar e tentar mimetizar os usos e a fala do lugar. Esqueça que vai conseguir falar igual aos nativos. Seu sotaque denunciará você, onde quer que você for.
Sotaque??? Sim. Todos nós temos sotaques e quanto eu me flagrei falando
"você está entendendo" em sala de aula aqui no Paraná, percebi que meu jeitão paulistano não havia desaparecido. Coloque bastante som nasal nos N dessa palavra e perceberá o que estou dizendo.
A capital paulistana impingiu marcas indeléveis em mim, das quais eu nunca me livraria, mesmo que quisesse. Quando no trabalho eu chamo minha amiga paulistana de
"Janethi" e acrescento
"você quer "leithi quenthi"? ela
entende bem sobre o que estou brincando. Sobre nossa
homesick.
Mas até agora só falei de mim, santa egocêntrica que pareço ser!
A questão complicou e ficou engraçada, quando alguém falou comigo, lá em Irati, no meu primeiro mês como nova moradora da cidade.
Alguém virou e me pediu
"E., me alcança o lápis?". Eu olhei o lápis ao meu lado, olhei pra ela, ela olhou pra mim e num lapso de alguns segundos pensei
"o que será que ela quer dizer com alcançar?". Entendi que era
"pegar" o lápis e atendi ao pedido.
Mas aquilo ficou soando estranhíssimo aos meus ouvidos...Saindo dali uma aluna, caminhando comigo e observando o ceú me diz
"o céu está brusco hoje, não é profe?".
Brusco?? Santas expressões idiomáticas!
Olhei para o céu e como estava
"enfarruscado", entendi sobre o que a aluna solicitava minha confirmação.
Mas agora peguei você de jeito, não é? Enfarruscado?
Talvez quem seja de São Paulo entenda o que eu disse. Esse adjetivo quer dizer
"nublado", "tempo instável", da mesma forma que brusco.
O estranhamento se deu devido ao significado que
"alcaçar" e
"brusco" tem para mim, falante de portugês igualmente a meus interlocutores.
"Alcançar" significa esticar-se para tocar algo em um lugar mais
"alto"."Brusco" significa algo que
"movimentou-se rapidamente e de forma inesperada".
Mas o
gran finale vem agora.
O Denzos, amigo de meus filhos estava lanchando em casa numa tardinha morna qualquer lá em Irati e ao concluir seu lanche, me disse
"Deus que ajude"!
Parei, olhei pro Davi, depois olhei pra Raquel...e depois de algum silêncio eu disse ao Denzos:
"O que eu tenho que dizer agora?"Holy God!
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