domingo, 31 de janeiro de 2010

Meu Portugal querido!


Alguém da cidade de Guarda, em Portugal, dedicou alguns minutos da sua vida lendo algum texto deste blog e me arrancou de meus assuntos tão íntimos para alçar voo na saudade da terra de Camões.

Meu avô materno chamou-se Afonso, como tantos Afonsos eu encontrei em Lisboa, em 1999. Algo havia nesse nome que espalhava-se entre jovens e senhores pelas ruas e cidadelas de Portugal.

Afonso, que significa "nobre e diligente atencioso", foi o primeiro rei de Portugal, que libertou o país do reino de Leão e Castela em 1143. Foi chamado O Conquistador e pelos muçulmanos El Bortukali ( O Português).

Assim ficou fácil entender o por que de tantos Afonsos, assim como Vascos e Paulos.

Portugal é terra de calor humano. Cada centímetro de chão me fazia sentir que estava em casa, pela língua mater, som tão familiar, em tão distante terra. Eu me sentia pertencente àquele sítio, caminhando por Alfama, passando por Estoril, que era o local original do nome que eu conhecia desde criança em São Paulo.

Tenho grandes amigos portugueses e saudades maiores ainda.

O cheiro de castanhas torradas entre as ruas dos Douradores e da Prata. Os azulejos azuis indefectíveis que estão em minha casa, assim como o galo de Barcelos e o vinho de Palmela.

O lugar mais amoroso do mundo é Portugal.

A Serra da Arrábida, o farol de Sesimbra e o rio Labão, em Tomar. As oliveiras mágicas e o pão alentejano que parece pão feito pelo nosso avô.

A sensação de pertença é tão forte, sensação causada pela língua em comum, que parecia que eu já estivesse passado por ali.

A praia do Restelo, do inspirado poema, me fazia ver as naus partindo. O farol de Belém e as aspirações de terra-além-mar (e saber que nessa terra eu vivia!).

A ponte 25 de Abril cantava sob as rodas da XR-250, rumo a Almada, o rio Tejo visível pelo gradil, causando uma doce vertigem à passagem.

Todas essas memórias estão permeadas pelo amor, pela amizade das gentes portuguesas adoráveis.

Saudades imensas, como só a língua portuguesa pode expressar o sentido na palavra SAUDADE!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Os olhos de Lu Kleppa


Poucas vezes escrevi sobre alguém em meus posts e hoje será um dedicado à Lu Kleppa, que tem nome de diva.

Caminhando hoje de volta para casa, alguns devaneios ainda sem formato começaram a se arremessar entre meus pensamentos formais e olhei para uma mulher que caminhava em minha direção.

Seus olhos não continham perguntas, muito menos respostas. Aqueles olhos só olhavam para dentro. E me desculpem o pleonasmo proposital.

A mulher pisava o chão como se pisasse cruelmente seus sonhos e desejos. Era parcimoniosa, gorda e vazia. Tinha os olhos ocos. É obvio que ela não me viu, tamanho era seu prazer em alfinetar-se à cada passo.

A imagem me impressionou e os pensamentos voaram e voltaram me trazendo a palavra Ânima.

A ânima, nosso sopro de vida, nossa energia exclusivamente humana nos potencializa e, ao mesmo tempo nos brinda com dores igualmente humanas: a angústia, a dúvida, a fraqueza diante da perda, a impotência contra a morte. Nossas feridas narcísicas.

Com a consciência da morte é que nos tornamos conscientes da vida, sensibilizados pelas tragédias humanas, como o desespero, a solidão, a tristeza, a falta, o abandono, a dor.

E é nesse vortex de potências e tragédias que a ânima existe. A ânima é o próprio vortex.
Os olhos de Lu Kleppa são translúcidos e posso ver seu vortex anímico, perfeitamente. Suas perguntas trágicas estão ali e logo dão lugar à tonalidades fortes da garra pela vida. Vão, turbilhonam-se e das profundezas da alma sobem a esperança, a angústia e a incerteza.

Aqueles olhos cristalizam-se em imagens terrificantes, choram, enquanto ela sorri e em seguida trazem à tona a calma azul de um olhar materno, aprovador, continente.

Enquanto ela fala, os olhos trazem a paz e a fúria, que rapidamente passam às dúvidas, dores e fracassos inconfessos.

Os olhos de Lu Kleppa veem o que as mulheres destes tempos veem.

Estão atentos à modernidade, são contemporâneos às incertezas e caos, ao mesmo tempo em que espelham a alma humana, o doce enlevo dos sentimentos e mantém o poder de Prometeu que trouxe o fogo à humanidade.

O poder lúcido de sentir, ser e fazer.

Esses são os olhos de Lu Kleppa.

Os olhos de todas as mulheres do mundo.

Salut!

domingo, 24 de janeiro de 2010

Para um ser vazio


Prossigo na trilogia "Para um" sem saber ao início que seria uma trilogia. Talvez até passe de três, quem sabe...daí se tornará sequência como nos filmes.
Gosto de reler meus textos antes de começar a escrever um novo, talvez na tentativa de encontrar pontos a arrematar, ou mesmo descobrir o que me demove 'entrópicamente'.
Constatei que venho escrevendo sobre esvaziamento e noções de como lidar com ele. O famoso vazio que já veio de brinde quando nascemos. Literalmente nascemos vazios e vamos, vida à fora, preenchendo o oco que ainda não ocupamos.
Uma de minhas teorias cotidianas esdúxulas, mas verossímel e aceita por algumas pessoas é de que cada ser humano precisa ocupar todo o espaço que sua condição biológica lhe deu. Conforme crescemos, nosso espírito precisa ocupar o invólucro preestabelecido, o corpo e, se possível, transcendê-lo.
Se somente ocupamos de forma precária nosso corpo, somos pessoas com algum espírito. Se transcendemos a embalagem que nos foi destinada, desenvolvemos ânima e migramos para a dimensão do que é humano realmente.
Animais possuem espírito, mas somente seres humanos se preocupam com outros seres humanos. Podemos permanecer a vida inteira no âmbito animalesco da sobrevivência, lutando e competindo por coisas que desaparecerão quando partirmos. Se agimos assim, a vida perde o sentido e as coisas começam a serem colocadas no lugar do espírito. Queremos ter, queremos poder, queremos parecer.
Já quando ultrapassamos, break on thru to the other side, passamos à dimensão estética e ética, deixamos o corpo e as fantasias de potência. Na esfera estética está o humano. Está a beleza ao lado da tragédia. Está o ser, o saber-se impotente, a dor. Nos tornamos maiores que a embalagem, porque aceitamos nossa condição trágica humana e passamos à dimensão simbólica, abstrata e verdadeiramente lúcida da vida e da existência.
É lá que os filósofos perambulam. Os loucos divinos e as crianças que não foram corrompidas. É na esfera estética que sentimos e verdadeiramente amamos as imperfeições, as faltas e ausências. Perdoamos aqueles que nos abandonam e esquecemos as mesquinharias e pobrezas de espírito tão em moda. Amamos o silêncio.
Alguns chamam essa transcendência de aura e podem vê-la. Ficam maravilhados e procuram tocar, nem que seja a barra da túnica do ser aurático.
Como deixar de ser imediatista e animalesco e passar à ser humano?
Com a Vontade, que é divina, enquanto expressão da alma humana.


Shalom!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Para um amor inexistente


Melancolias à parte vou escrever sobre o amor.
Eu postei lá no orkut (que era meu blog inicialmente) que nunca mais escreveria sobre o amor. Mudei de idéia, porque à época o amor doía e hoje não dói mais: meta-morfose-ou-se.

Falar de amor é sempre anacrônico e brega anyway. Nunca estamos preparados para amar e idealizamos alguém que caiba em nossos sonhos.

O amor romântico, idealizado, está em circulação desde Tristão e Isolda e os romances cavalheirescos.

Mas se contemporalizarmos um pouco, você pode dispensar amor à alguém e não receber nada em troca e ainda saber que isso não dói.

Só dói quando você esperava recompensas que não vieram. A pessoa não reconheceu você, explorou o que pôde e saiu fora. Se havia expectativa, havia cobrança. Se havia cobrança...o amor havia morrido e você não percebeu.

Ontem escrevi sobre a amizade e o amor que há nela. Hoje escrevo nada diferente. Ser amigo de alguém é amá-lo, é ser soul mate.

Lembrando o motivo de eu ter escrito dois anos atrás que nunca mais escreveria sobre o amor, lembrei que o amor é atemporal, que renasce como flor roxa.

Que é verbo intransitivo.

Que é amorfo e multifacetado, o que em si já é uma contradição. Você o coloca onde quiser que ele toma a forma do receptáculo. Se for tiny, lá ele fica. Se for oceânico, ele inunda as vazantes.

Ele é esférico e gira em todas as direções. É saudável, doce e mantém sempre a inocência infantil, aquela que vibra com o raio de luz atravessando o fio de cabelo ruivo.

É conteúdo e continente. Mais vasto que as estepes e desertos juntos.

E cabe dentro de você, perfeitamente.

Avohai!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Para um amigo distante


Amigos tem circunstâncias que os criam ou que os pulverizam.

Há amigos por "oportunidade", amigos "negócios" (bons de investimento) e amigos "poço sem fundo".

Importante é não confundir oportunidade com relacionamento de mão dupla. Muitas vezes o pacote que nos oferecem é brilhante e com laçarote excitante, mas na realidade não apresenta coisa boa lá por dentro.

Quando há amizade, há algo de dor macomunada. O sentimento de mão dupla. O amigo sente a dor junto, apesar de não doer tanto ali dentro dele. Quando a dor é partilhada, pare e observe bem: ali pode ser que haja um amigo. Se ele não tem dor lá dentro, dor sentida, então não consegue ser amigo.

Há dois dias atrás percebi que um ex-amigo visitou meu perfil no orkut e saiu sem deixar bilhete embaixo da porta. Somente aquele vulto sombrio do passado em minha lista de visitantes enublou minha noite e um ar severo cobriu meu rosto.

Lembrei que houve um dia que o chamei de alguma coisa boba e ele me puniu. Fez uma cena melodramática, não aceitou minhas desculpas e eu perdi o controle com tamanha perversidade. Doeu. Foi a dor mal curada dele que me invadiu e enlouqueceu.

Às vezes somos amigos que ouvem e dão suporte. Até faço isso bem. O problema é a recíproca. Quase nunca acontece, portanto nem chega a haver dúvidas se é verdadeira.

Há amigos "vampiros" que sugam e esgotam. E muitas vítimas adoram serem esgotadas por seres esvaziados e sem alma.

Outros são amigos que não "tem colchão": são secos, superficiais e aterrorizados se precisam destrancar um sentimento. Encenam precariamente que estão atentos, mas na realdiade só pensam em sua magreza de espírito.

Justiça seja feita aos amigos tipo Edward (de Crepúsculo e Lua Nova): são silenciosos, taciturnos, problemáticos, mas estão com sua helping hand estendida bem na hora em que você precisa. Da mesma forma que surgem, esvaem-se.

Há os amigos que "estrangulam" você e os amigos que "esfolam". Há ainda os "doidos de pedra" que a gente insiste em deixar que fiquem atormentando nossa paz.

"Eu sempre contei com a ajuda de estranhos" dizia Huma Rojo combalida, enfraquecida pelo castigo da vida no filme Todo sobre mi madre (de Almodóvar).

Os "estranhos", esse seres humanos acidentais que são inseridos em nossa vida, executam algo e partem forever são os melhores amigos.

Doam aquele velho sentimento humano tão em desuso, há tanto tempo, que, de repente returns back to life no gesto, no sorriso, no suporte de um totalmente amigo estranho: a SOLIDARIEDADE.

Esse tipo de amigo eu tenho aos montes. Faço um desfile na memória, defile de situações inusitadas em que esse tipo kind and special de amigo apareceu em my entire life.

São os melhores por terem sido tão fugazes e tão profundos. Nos tocam pela singeleza e pela humanidade em seus gestos afetivos que não esperam nada em troca. Agem e desaparecem na multidão.

Ser amigo é ser capaz de amar.

Há muitos que nem sabem o sangue novo que nos deram (já que falei de vampiros e Edwards).

Amigos não são bons pelo tempo que ficam.

São bons pela marca afetiva e vida que nos deixam.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Mundo



Sem Atitude não Criamos e não transcendemos a Experiência.

Pensando sobre esses três conceitos, olhei para a minha vida e concluí que acabo de encerrar um ciclo, iniciando outro. Este ano inicio o 4º ciclo da minha vida.

O 3º ciclo durou 10 anos e o chamarei de "Come back to life".

Explico: após 15 anos casada, me divorciei em 1999 e comecei my personal life sem nada, totalmente All by myself: sem trabalho, sem experiência, sem casa, sem família, sem dinheiro. Meu principal medo, aquilo que mais me aterrorizava era passar fome, entre outras tragédias.

Avaliando hoje os 10 anos desse ciclo, pude elencar 10 motivos que me ajudaram a ser quem sou:

1- Nunca passei fome.

2- Focalizei minhas energias em meus filhos João Caetano, Davi e Raquel, que se tornaram pessoas sensíveis, centradas, inteligentes e que buscam autonomia.

3- Ganhei dois filhos jovens, que somente acrescentam sentido e felicidade à minha vida: Carlos e Aiman.

4- Recebi ajuda inimagináveis, tanto emocionais, quanto financeiras. Pessoas me deram suporte, acreditaram em mim e investiram seu tempo, seu trabalho, carinho e até dinheiro para que eu chegasse onde estou.

5- Realizei sonhos: fiz mestrado, fui pesquisadora, professora universitária de universidade estadual e hoje sou professora de pós-graduação.

6- Ganhei amor e cultivei amigos verdadeiros. Sempre digo que amizade tem prazo de validade: muitas amizades são pontuais e passageiras, em virtude das circunstâncias. Nunca deixam de ser significativas, porém acabam. Outras tem prazo de validade indeterminado, como os bons vinhos. E recebi vintages especiais, amizades de ótima qualidade.

7- Apreendi conhecimentos em várias áreas profissionais.

8- Desenvolvi uma carreira que evoluiu conforme eu fui evoluindo.

9- Encontrei o centro de minha Roda da Fortuna e me posicionei nele. Agora sei caminhar o caminho.

10- Aprendi a contar com o inesperado, com a oportunidade que aparece, porque você está lá, com a experiência, a criação e a atitude certa.

C´est ça!

E para este ano de 2010 eu tenho o MUNDO, o arcano XXI !


Stephen Covey escreveu que existem três aspectos centrais para sermos Proativos:

* A Experiência - o que vivemos e aprendemos
* A Criação - aquilo que geramos
* A Atitude - a forma como nos posicionamos frente à experiência.

Ser proativo é ser responsável pelas próprias escolhas, ter consciência e liberdade para escolher.

Pensando nisso, como será seu próximo ciclo de vida?!

Salaam Aleikum