sábado, 25 de julho de 2009

Estórias de casamentos



Sem querer peguei o filme "O casamento de Raquel" parar assistir hoje, uma semana após o casamento de meu irmão. E antes de viajar, meu filho lembrou do filme argentino "Família rodante" e rimos juntos ao recordarmos algumas passagens.

A coincidência ficou pelos dramas que as famílias arrastam em suas tramas de relações intricadamente estabelecidas ao longo do tempo: os filmes mostraram os percalços daqueles que se dispuseram ao casamento e minha ida ao Mato Grosso não foi diferente.

Assistindo ao filme hoje, vi como as memórias, os comportamentos previsíveis, as dores que brotam apesar do esforço em apagá-las, a busca de reconciliação aconteceram nos filmes e na minha vida real.

O casamento de meu irmão foi um acontecimento à parte. Ocorreu na região mais exotérica do país, entre a serra mágica e a pororoca do rio Araguaia. Foram 1.500 km percorridos de minha casa até lá, com uma pausa em sampa pra mais estórias, antes de seguir viagem.

Houve o deslocamento de minha família imediata, com custos emocionais e financeiros, claro. Mas todos fomos até a barra do rio ao pé da serra mágica.

Eu acredito que foi devido à uma mulher apenas que tudo aconteceu. Uma estranha. Conheci Dora nos dias que antecederam o casamento e ao saber dos preparativos, percebi que fora ela a responsável por toda aquela movimentação. Várias pessoas estavam envolvidas e tomaram as iniciativas para que o casamento acontecesse, mas não fosse o desejo de Dora, talvez o casamento não deixasse de ser uma idéia.

Todas as queixas pelas dificuldades de todos para chegar até lá, tiveram início pelo desejo de Dora. Sentimentos os mais variados brotaram e fizeram suas bagunças, graças aos caprichos de Dora.

Presenciei muitas dores, alguns medos, vários silêncios reprimidos que gritavam aos meus ouvidos. Participei de momentos felizes, de descontração e de momentos muito engraçados.

Ouvi muitas risadas e saudades escondidas nelas. Chorei baixinho, bem escondidinho, as saudades que senti. Dormi enternecida ouvindo os risos da família que me acolhia, todos dormindo juntos, como em um grande acampamento no quarto do pai da noiva.

Entrei, de mansinho, na vida de pessoas que eu nunca vira antes. Ri com elas, fui bem recebida e tocada por elas, fiquei "perdida sem pai, nem mãe" (como eu cantei algumas vezes) e orbitei ao redor delas. Fui acolhida pela família que eu nunca havia visto e não fui exatamente acolhida pela família que eu tive um dia. Laissez-faire!

Mas foi em função de Dora que, também eu, sofri, tive medo do que poderia acontecer. E fui feliz, graças à ela, pelos momentos calorosos, de solidariedade, de carinho dos quais participei. E o significado de seu nome, é nada menos que "presente".

Dora esteve presente em alguns momentos. Várias vezes notei que tinha os olhos marejados por lágrimas. Talvez quisesse participar ou somente sentia uma dor, um desejo, um sonho. Seu rosto inclinava e seu pensamento estava ausente. Era estranha à mim e eu à ela. E assim como eu, ela orbitou em torno da arrumação do casamento, da cerimônia, da festa.

Sem Dora, talvez nada tivesse acontecido da maneira que foi. Nenhuma confusão teria tomado lugar, nem os deslocamentos de várias pessoas até sua cidade. Muito menos os encontros, as recordações felizes, as saudades que foram sumindo graças à presença das pessoas que as causaram.

Dora não sabe com quão gracioso presente ela nos brindou.