segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Um mundo ideal?


Acabei de receber um email com duas piadinhas sobre mulheres do século 21. Falavam de auto-estima alta, independência e de príncipes que foram kiked of de suas vidas.
Fiquei aqui pensando sobre isso. Mulheres independentes (como eu já havia escrito em outro post aqui) e um imaginário idealizado de independência e potência.
Se a complementariedade se dissolve e as mulheres se tornam "homens mal acabados", caminharíamos para um mundo uníssono? Um mundo ideal, mas com pessoas mal acabadas?

Os homens à cada dia vão se aprimorando e assimilando a feminilidade.

Aquilo que, um dia, se chamou metrossexualidade estagnou-se numa meta morfose inacabada: assim como as mulheres, esses homens pretensamente são homens, porém com embalagem de mulher.
Àqueles que rejeitaram tal deformação e ainda se posicionam como homens, restou serem comparados a ogros grosseiros, espécime ainda muito requisitado entre algumas camadas da população feminina involuída. Ou restarem casados e criarem pança e careca.

Já reparou que não encontramos homens "livres"? Estão sempre atrelados à uma mulher (pelo casamento), à duas mulheres (pelo concubinato) ou à outro homem. Se acaso encontra-se um homem disponível, imediatamente vem a idéia de que "algum problema ele deve ter".
Se as mulheres querem independência, os homens não a querem? Ou não será bem essa a ordem no silogismo?
De outro lado temos as mulheres independentes que querem homens perfeitos.
Em que mundo estamos?
A mídia nos oferece uma enxurrada de ícons que não pedimos, de mulheres ativas, independentes, bem sucedidas, ultra bem cuidadas, ricas e sozinhas. Basta observar os desenhos infantis com hyper female heroins para entender que estão em fase de incubação novas mulheres potentes.

O pushing do encapsulamento está nos levando à fronteiras perigosas e salvaguardando espaços de controle antes inimagináveis.

Cada um encapsulado em sua própria individualidade, associando-se à isso tecnologias para garantir a sobrevivência do que aí já está: o sistema que oferece os fetiches e seus objetos sexuais inumanos, a facilidade de conexões via redes midiáticas sociais, a promessa de prazer ininterrupto e, para o caso de necessidade, a fertilidade in vitro para pais e mães solteiros.

Queremos esse mundo?

Saudades do tempo das relações humanas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O verdadeiro poder criador



Após um longo e congelante inverno, retorno ao meu blog incipiente com mais um texto provocativo.

Pensar é algo que nunca deixamos de fazer, pelo menos é o que mais acontece nestas minhas esferas direita (haja racionalidade!) e esquerda ( imaginando e criando).

E foi pensando que cheguei à algumas filosofias cotidianas esdrúxulas, mas que cativam alguns leitores com massa encefálica mais aguçada e sensível.

Como eu já disse pessoalmente, ser homem não é, nem nunca foi nada fácil. Às mulheres é dada a liberdade de ser e não ser ao mesmo tempo. Não existe à toa o grande dilema de Hamlet, o príncipe deprimido da Dinamarca, o de ter que refletir sobre ser OU não ser.

As mulheres são educadas por mulheres, logo, fica fácil circunavegar pelas águas informes femininas, ora profundas e densas, ora rasas e histéricas, estéreis. Para ser mulher, não há crise, a não ser aquelas relacionadas às fases lunares e fluxos que vão e vem qual a maré.

Já os homens são educados, nada mais, nada menos pelas mulheres. São as mulheres que dizem aos homens que devem ser homens. São as mães que erotizam seus filhos homens e que indicam caminhos a serem escolhidos vida à fora.

Os homens não se livram das mulheres, nunca. Criam clubes restritos, religiões excludentes, buscam refúgio em cavernas grotescas para negarem e se esquecerem das mulheres que os educam e seduzem. Mas é em vão.

É só voltar às ruas, às casas e lá estão as fotos sobre a estante, as flores no vaso, a capa sobre o liquidificador estorvando o acesso. A casa da mãe nunca fica longe demais. Alguns até exigem que suas esposas tornem-se suas mães, chegando até ao cúmulo de assim as chamarem, tal a dependência.

Os homens fogem às mulheres. Já dizia Dr. Freud que o poder da criação é feminino. É a mulher que tem o poder de gerar vida. Os mitos tentam enviesar esse poder, atribuindo-o à Brahma, Urano, Yawé. Mas a realidade é ocultada por mitos patriarcais.

Os homens fogem ao poder criador da mulher e, de alguma forma, precisam salvaguardar-se desse poder de dar e de tirar a vida.

Os mitos ancestrais contam que foi Lilith a primeira mulher de Adão. Como sua alma era indomável, recusou-se a estar "por baixo" do marido. Deus até tentou explicar que era "natural" que a mulher se submetesse, porém Lilith era livre, consciente de sua sexualidade e caminhou a estrada para fora do Éden.

Essa parte ninguém nos conta, não é mesmo?!

Lilith foi matriarca de um povo que conheceu a liderança feminina. Ela é a noite, a própria lua. Os mistérios que envolvem o feminino, provém de Lilith, mãe geradora, deusa do amor e do sexo, controladora das forças inconscientes (assim como Afrodite, Vênus, Inanna, Ishtar).

Lilith é Eros, a força do amor criador (a LUA), em contrapartida a Logos, a força da consciência, do trabalho, da realização (o SOL).

O que é racional é estreito. O que é irracional é dual, é largo e profundo, denso e raso.

Por isso que os homens fogem às mulheres. Pela força multi direcionada, multi focalizada por ser irracional e indefinida.

Segue a Cabala contando que Deus criou o SOL e a LUA como luzes para reger o dia e a noite. Como tudo é cíclico, o sol e a lua se auto completam, assim como o racional e o irracional, o dia e a noite, a luz e as trevas, o masculino e o feminino, o Yin e o Yang.

O que seria natural, então, seria a complementariedade entre masculino e feminino. Entre Adão e Lilith, entre homens e mulheres.

Como eu dizia ao início, não é fácil aos homens se livrarem do poder gerador feminino. Para isso contribuíram religiões, culturas, costumes que procuram abolir, exterminar ou sobrepujar o poder que tanto temem.


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Medo



O medo impele os audazes. A sorte os favorece.

O medo é um instinto necessário para qualquer ser vivo. É ele que nos coloca em alerta e garante a sobrevivência.

Ter medo é saudável e recomendável. O problema é quando o "sentir medo" se torna mais gratificante do que sobrepujá-lo.

O tema reincidente no filme Alexander, de Oliver Stone é o medo impulsionador de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia e conquistador do mundo oriental.

Da mesma forma em que o medo pode paralisar (basta lembrar alguns comportamentos miméticos na natureza, onde o animal finge-se de morto instanteneamente), pode, por impulso, arremessar a pessoa ao encontro de seu elemento gerador, movimentando grande energia psíquica para a reação e para ação.

Como já escrevi uma vez neste blog, a civilização cobrou preço alto para seu estabelecimento e Freud nos alerta que trocamos a liberdade pela conveniência. Passamos a preferir a manutenção do status quo e deixamos a conveniência nos arrancar o tônus muscular, a força de nossas mandíbulas e nossa "força de vontade". Somos flácidos corporalmente e mentalmente.

A iminência do perigo real nos aguça os instintos, acelera a adrenalina para permitir a prontidão para ação, agudiza a análise do momento e deveria impelir à ação.

Alexandre era jovem e inquieto. Aos 20 anos era rei da Macedônia. Tinha suas dúvidas e auto afirmações a consumar. Sabia. Foi educado por Aristóteles e conhecia o mundo da época. Sabia que o continente alongava-se para depois da Pérsia e que pelo mar poderia voltar ao Egito e a seu mundo conhecido.

Conhecimento é a base da competência. Habilidade é o segundo ponto: ele foi educado como guerreiro e estrategista, como príncipe macedônio que era. E a atitude era sua marca pessoal: diante do medo, a impulsividade o impelia à ação, retirando do conhecimento e da habilidade os elementos necessários para ter sucesso. Nunca perdeu uma batalha.

O medo era a fonte geradora de sua grande energia psíquica. Seu comportamento audacioso era avaliado como petulância e instabilidade. Foi conquistador e sanguinário. Destruiu o império de Dario III e apossou-se da Pérsia e Egito.

Ao mesmo tempo era o Defensor da espécie humana, sendo este o significado de seu nome. Como helênico que era respeitou culturas, famílias e incentivava a união de macedônios, gregos e povos conquistados.

Alexandre usava o medo em seu favor, para gerar impulso e ação. E a sorte o favoreceu.

Ninguém mais igualou-se em realizações e conquistas.

Alexandre sentia medo e foi Magno, o Grande.

Ci vediamo presto.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ser iluminado




"O progresso nem sempre é uma unanimidade".

O que é mais triste é encontrar jovens que não sonham, que não criam e não acreditam.
Se fossem velhos, voi-lá.

Columbus disse que os iluminados carregam o peso de todos os demais.

As grandes mudanças vieram de iluminações, enlightenings e de ações igualmente grandes.

Se seu corpo muda a todo instante.
Se suas células se renovam inteiramente à cada 7 anos.

Então, será que você é o mesmo com toda essa renovação?

Mudar é algo intrínsecamente humano. É adaptar-se e readaptar-se, quando necessário.

É transformar a si e ao mundo.

Enlight yourself!

domingo, 30 de agosto de 2009

Cristóbal Columbus



Parlez-vous Français?
Non, monsieur.
Je ne parle pas Français.
Mon vocabulaire c´est petit, monsieur.
C´est ça!


Você é competente? Em quê?

Afinal o que é competência?
É conhecer, desenvolver habilidades e realizar.

É muito bom ser surpreendido em uma situação desafiadora e você reagir com suas competências e se sair relativamente bem.

Ser desafiado, querer avançar em conhecimento e em espaços deveriam ser desejos de todos os seres humanos.

Esta semana assisti de novo ao filme "1492- Conquest of Paradise" e sempre é bom pensar em Cristóvão Colombo, genovês, navegador, estudioso das grandes teorias náuticas e físicas que indicavam a existência de terra navegando em linha reta à partir da Europa.

Colombo foi um dos grandes que me marcaram na adolescência: sabia, desenvolveu habilidades e agiu. Desafiou o oceano e as regras da época, porque intuía que a terra estava lá.

E pensar que uma embarcação era como uma casquinha de ovo à mercê das intempéries e sobre toda a energia dos oceanos.

O ato grandioso de Colombo não foi chegar à terra do outro lado do Atlântico. Isso foi realizar.

O que foi grande em Colombo foi quebrar os dogmas da época sobre monstros e o fim dos mares, sobreviver à Inquisição, persistir até conseguir apoio da rainha de Castilla y Aragón e articular os interesses da coroa e igreja ao seu projeto de chegar às Índias.

Trouxe o Novo Mundo como hálito de redenção ao Velho.

Quando penso em competência, penso em Cristóbal Columbus.

Lá, depois da curva, o que é que tem?

Au revoir.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tércio & Elvis


Suspicious mind. Love me tender. You are always on my mind.

Minhas fases revival sempre vão e vem e, neste último período, tenho recebido as visitas de minhas primas e primos em meu orkut, deixando recadinhos e revirando minhas fotos nos álbuns.

Relembrar os momentos da infância é se alimentar de afeto e aconchego para, então, voltar olhar para o futuro.

Devido aos encontros virtuais de nossas memórias de primos, minha viagem ao passado me trouxe Tércio & Elvis.

Ouvindo A little less conversation dois dias atrás, me dei conta de que Elvis e Tércio estão vinculados em minha lembrança. Mais que vinculados: um não existe sem o outro.

A última vez que vi meu primo Tércio já faz alguns bons 20 anos.

Ele já não era mais o garoto gordinho do qual me lembrava. Estava homem e com um ar semelhante a minha avó Maria Gimenes.

Tércio era terrível e inquieto. Sempre aparecia com umas tiradas absurdas ou estórias malucas, invertidas. Tirava um barato de tudo, fazia a gente ficar com raiva ou vexada pelas troças que pregava. Era raro um momento de conversa "normal" com ele.

Eu tinha 10 anos, ele uns 12 e conversa não existe entre crianças dessas idades, ele já pré adolescente. Meu primo Tércio era surreal para mim, garota tão inibida e sem graça que eu era. Em meu álbum do orkut existe uma foto em que eu e ele éramos "casal" de honra no primeiro casamento da prima Priscila. Eu com 4 anos e ele com uns 6 anos. Imagine: os dois doidinhos pra largar a mão do outro! Que micos fazem a gente passar, né, mãe?

O Tércio era uma incógnita para mim. Eu não o acompanhava e, nem de longe, eu o entendia.

O que ele não sabe é que onde Elvis está, ele está junto. Para mim, claro.

A coleção de LPs de Elvis Presley que ele tinha àquela época era algo fenomenal para 1976. Ele se orgulhava de ter TODOS os Long Plays gravados até então (e olha que muita gente que está lendo este post não sabe o que é Long Play). Eu olhava aquelas capas coloridas, ouvindo o que ele dizia e flutuava nos ares de minha total ignorância de criança.

As capas de LPs, as músicas que eu ouvia, os macacões ultra-sexies que Elvis usava, com aquelas costeletas másculas toda vida, foram sendo amalgamadas às lembranças de Tércio.

Hoje entendo que a inteligência dele estava lejos da minha à época. Era demais pra mim.

Tércio, meu querido primo: dedico à você este post, sem saber bem ao certo onde você está aí em Santa Catarina e como está a situação de vocês após as enchentes.

Espero que goste das lembranças ternas e da pequena homenagem.

O tempo passa, a gente envelhece por fora, mas carrega um oceano de boas lembranças por dentro, lembranças que nos mantém vivos e aquecidos!

Aloha!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Camiños de hierro


La estoria de mi familia es toda compartida com la estoria de los trenes.

La familia Costa y la familia Prado Veiga desde el comienzo de sus vidas en Brasil estuvieron cerca los trenes y las carreteras de hierro.

El sonido del tren, la gente que ia y venia, el desarollo de pequeñas ciudades através del tráfico de gentes y cosas por los trenes.

Fue con gran orgullo que mi bisabuelo Firmino Prado Veiga (en la foto) empezó dedicarse al trabajo en los camiños de hierro de un pequeño pueblo nel interior de São Paulo.

Su traje era como um aparato de honor. Su trabajo era como um compromiso con el destino del pais.

Identicamente mi bisabuelo Caetano dedicavase al trabajo en la estación de trenes en Casa Branca. Son millones de historias de la estación, las personas del pueblito, sobre el comportamiento de mi bisabuelo, tan controvertido.

Mis dos familias desdoblaron los camiños de hierro de São Paulo.

A lo mejor tengo historias de camiños y destinos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Orient Express Route: Spiceries´ Power




A alimentação pode servir para inúmeros fins: manter o organismo vivo, ser uma rotina enfadonha ou motivo de negociação entre mãe e filho. Pode ser ainda um sacrifício ou um prazer tão grande que escraviza alguém.

Meu filho Davi dizia outro dia que o mais importante no alimento é o cheiro. É ele que vem primeiro, que cativa você e te deixa em transe alucinatório até que o objeto desejado seja degustado.

São experiências mágicas, transformadoras sentir o cheiro da comida sendo preparada, da alcaparra na carne, do alecrim, manjericão e óregano, do bolo assando, da goiabada sendo derretida, do chocolate escaldando no creme de leite e virando trufa, sem falar no café coando e silenciosamente nos torturando com seu cheiro hipnótico, muito melhor que seu gosto. Como pode? Beber café é frustrar-se ao infinito. Ele não corresponde ao seu aroma entorpecente.

O prazer do aroma e da degustação transformou o mundo, desenvolveu a navegação, criou comércio entre o mundo ocidental e o oriental. Podemos afirmar que somos fruto da corrida desenfreada pelas especiarias. Quem nunca estudou na escola que a circunavegação do mundo se deu em função da descobertas de novas rotas até as especiairias, como tentativa de quebrar o monopólio árabe, muçulmano?

E pensar que os grandes mercadores venezianos e genoveses enriqueceram aos montes ao transportar canela! Hoje é algo tão trivial que nos aleja deveras de seu passado histórico.

Se você já reparou um dia, os árabes utilizam grãos e especiarias na culinária há séculos. Na Índia a comida tem cores e aromas tão magnetizantes, quanto o cenário do país e suas cores saturadamente harmoniosas.

O livro Especiarias & Ervas Aromáticas: História, Botânica e Culinária, de Jean-Marie Pelt, nos conta como os depósitos egípcios há 2.000 anos antes de Cristo ficavam abarrotados de canela, cardamomo, ébano, gengibre, como se fossem cofres repletos de ouro.

Os gregos, na era clássica, costumavam degustar comidas exóticas preparadas com um mix de vinho tinto e inúmeras especiarias, verdadeiras iguarias culinárias. Desde muito primitivamente as especiarias estão ligadas ao refinamento.

Na era medieval, servir banquetes com pimentas, açafrão, cúrcuma, pápricas era sinal de poderio econômico e estatus social. Somente nobres utilizavam sementes e pós, que valiam seu peso em ouro.

Com o tempo e com a invasão do mercado por inúmeros mercadores (após 1500 d.C.), como tudo que há em excesso acaba virando commoditie, as especiarias passaram a ser mais utilizadas nas culinárias regionais européias e se popularizam. A Espanha começa a produzir açafrão, por exemplo, e os mercados migraram para outros objetos de desejo (talvez escravos para as terras que produziam açúcar).

Degustar pode ser uma experiência tão potente, quanto uma montanha russa ou um body jump. Já demonstro pra você!

O contato com o diferente, com o exótico e aromático mundo oriental deixou os europeus reféns de um grande poder mágico: o poder do olfato, da visão e paladar gustativo.

Você que come arroz com feijão, por exemplo, já experimentou colocar curry no arroz e folhas de louro no seu feijão? Ah! Você pode me dizer que Arroz ao Curry é coisa de grãfinos e não é comida para o dia a dia.

O curry irá te custar uns 0,10 centavos de Real e trará um aroma indiano à sua segunda-feira, além de uma cor estupenda e vibrantemente amarela. O louro custa igualmente e foi planta utilizada para coroar atletas que se igualavam aos deuses, vencendo os jogos nas Olimpíadas gregas. Além de presentear você com um sabor ligeiramente ácido e verde.

Sim. Sabor tem cor, sim! E à isso damos o nome de Sinestesia!

Degustar um Kolhapuri Kombdi ou frango com gergelim, coco, sementes de papoula, pimentas, cúrcuma e com uma pitada de cravo em pó e canela, pode ser uma viagem sideral.

Os sabores são registrados em diferentes partes de nossa boca: a língua pode captar o sabor doce em sua ponta, a acidez em suas bordas, o amargor na parte inferior, próximo a garganta e no meio percebemos o sabor salgado.

Comer uma comida indiana com páprica picante, coco ralado, mostarda, curry, canela e cravo em pó, faz com que seu cérebro seja bombardeado pelos sabores e estímulos em diferentes partes de sua boca e língua. Não tem adrenalina melhor!

Costumo dizer que o sabor explode em nossa boca, como se fosse uma chuva de fogos de artifícios. Uma comida pode ter um sabor ao início e outro ao final do contato com sua língua e as conexões entre eles fica lá com nosso cérebro, todo espezinhado pelos aromas, cores e sabores.

As mães sempre falam para não brincar com a comida, mas degustar um chocolate com canela, um bolo molhado com leite e cravo em pó ou um estupendo bife au poivre , como faz meu querido filho João Caetano é uma brincadeira extasiante!

Sempre brinco que as bruxas nada mais eram que cozinheiras.

Ou será que as(os) cozinheiras(os) é que são bruxas(os)??

Aproveite e assista ao filme ESTÔMAGO, do diretor curitibano Marcos Jorge, para entender o que é poder.

Ci vediamo presto!

Realidade, passe amanhã!




Vivemos como em sonho.

Para seu domingo, que começará antes do meu, deixo a reflexão sobre "Life is dream".

No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan
y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas
al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.


Federico Garcia Lorca - Ciudad sin sueño - Nocturno de Brookling Bridge


Soon, be right back!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Che, el Argentino.



Ernesto Guevara era um homem comum. Um argentino comum, como os argentinos.

Tinha sonhos, ambições e um lado humano aguçado: escolheu ser médico pelo serviço às pessoas, por sua doença incurável ou até mesmo escolheu ser médico pelo status. Não sabemos.

Sua imagem é forte, sempre trajando uniforme miliciano e ao empunhar os famosos charutos cubanos, adicionava mais força ainda à imagem.

É isso.

Ernesto de la Sierna Guevara criou uma imagem de si.

Ao deixar Buenos Ayres em uma motorcicleta para conhecer a Améria Latina era ainda "el fuser", porém, ao se deparar com as realidades, continente acima, vai sendo transformado por elas e sua identidade vai mudando.

Isso é fácil observar no filme "Diários de Motocicleta" de Walter Salles, descontando o fato que El CHE era um homem grande e robusto e nosso querido ator Gael Bernal é franzino e baixinho. Talvez isso ajude na construção dessa identidade imagética: de franzino à robusto durante a tranformação de homem à imagem.

Ernesto se transforma ao ter em mãos a literatura de José Martí. Ernesto reflete sobre a realidade que vê. Ernesto sente e vai mudando de atitude.

Já no filme "CHE, el Argentino" de um diretor americano e produção de Benício del Toro (que estrela o filme), vemos o CHE robusto, mais próximo do real. Destaque dou ao Raúl, irmão de Fidel Castro, "coadjuvado" por um Rodrigo Santoro feioso e com poucas falas em espanhol para não demonstrar sua pouca habilidade com a língua. Pobrecito!

A selva tropícal úmida, arrastada e pegajosa é a tópica do filme que retrata a tomada de Sierra Maestra, início da Revolução cubana. Novo desconto deve ser dado ao diretor que "tentou" usar técnicas de documentário e "real time" no filme. A parte mais interessante foi a registrada em P&B com cenas com foco excentrado e algum movimento folhetinesco, como um documentário.

Já a parte colorida era como a selva cubana: úmida, arrastada e pegajosa. Até Che Guevara era flaquito nos discursos à tropa de rebeldes, muito diferente das fotos que temos dessa época. O ranço da selva aumenta a asma de Che, ao mesmo tempo em que nos enche os sentidos de uma pesada umidade relativa do ar. Até a voz de del Toro é flaca, não conferindo autoridade ao CHE.

Pois bem, com a revolução e tomada de Havana em 1959, Ernesto já era o CHE conhecido pelos revolucionários cubanos, claro que devido à sua identidade argentina, mambos-tangos e ches que o acompanham. Como escrevi em outro texto sobre identidade, onde quer que vamos, levamos a nossa.

O que observamos nos anos de estabelecimento do novo regime cubano foi o uso da imagem que CHE conseguira. Suas entrevistas à repórter americana e aparições em jornais impressos nos mostram sencillamente um homem satisfeito com a exposição. Dizem que seus textos e ensaios não eram lá aquelas coisas como textos de origem marxiana (ou marxista, como queiram), porém suas respostas de efeito e sua vaidade discreta são aparentes em inúmeros momentos.

CHE como imagem vai se fortalecendo com essa discreta vaidade que algumas fotos transpiram e conforme registram alguns comentários de biógrafos.

A nova identidade de El CHE é de uma imagem pública, um argentino garoto propaganda do regime cubano. O Ernesto se perdeu na imagem e a diferença nunca o abandonou. Ernesto morreu, sua imagem, não. Ela vive sem ele.

Como a imagem transcende o real, a imagem de CHE se tornou a segunda imagem mais famosa no mundo, depois da imagem de Jesus Cristo.

Che Guevara olha para o nada. Sabe-se que essa imagem foi redesenhada por um artista plástico irlandês, Fitzpatrick, que retirou da fotografia de Alberto Korda, o olhar humano de "imobilidade absoluta", "raiva" e "dor" do guerrilheiro e lhe conferiu o olhar sobrehumano de mito.

Sobre essa famosa imagem de Che olhando para o nada, Jonathan Green, diretor do Museu de Fotografia da Universidade da Califórnia, em Riverside, afirma:

"A imagem de Korda se transformou num idioma ao redor do mundo.
Se transformou num símbolo alfa-numérico, num hieróglifo, um símbolo instantâneo.
Ela reaparece misteriosamente sempre que há um conflito.
Não há nada na história que funcione desse jeito."

Amém.

domingo, 9 de agosto de 2009

Please, leave your message.


Escrevo mensagens em uma garrafa.
Permita-me saber se você leu e gostou. Ou se não gostou.
Preciso saber se me distancio demais em minha ENTROPIA.

Please, leave your message!

Pais e mães solteiros


Vivemos uma época em que ser solteiro virou opção de vida.

Ontem eu li uma matéria que falava sobre mulheres solteiras e uma delas disse: "sou solteira, o que é difente de estar solteira".

Ser solteira é escolher a vida dessa forma e estar solteira é um estado de transição, enquanto se espera outro alguém chegar. Outro alguém que se encaixe no seu sonho, como disse Cazuza.

Há algumas semanas uma revista publicou matéria de capa sobre o aumento de pessoas sozinhas que trocaram os amigos reais por amigos virtuais. Claro que as faixas etária e socioeconomica são as mesmas da matéria de ontem.

Conviver com outras pessoas sempre foi difícil. É só pensarmos em nossos avós e quando diziam sobre a dureza da vida e da necessidade de emprestar dinheiro, por exemplo. Sempre fui de família pobre: meu avó paterno moldou calçadas e praças da cidade de São Paulo com as mãos e meu avô materno era capataz de fazendas.

As pessoas dos séculos XIX, XX tinham personalidade. Explico: ao emprestar dinheiro de alguém a pessoa empenhava a palavra e a honra. Aquilo que a gente ouve sobre "tirar um fio da barba". Hoje, ao ouvir isso as pessoas riem sobre a ingenuidade em se acreditar no fio de barba de alguém como empenho de compromisso para pagar a dívida. Porém naquele época isso significava a honra empenhada.

Hoje as pessoas não sabem o que é honra. Nem o que é dignidade e compromisso moral.

Você já se ocupou em pensar sobre essas três palavras?

Eu estava falando com meu filho ontem sobre sermos moralmente guiados e o quanto isso nos distancia dos demais. Acabamos sendo os "chatos" ou os "radicais" onde vamos. Moral não é aquela da igreja que censura a expressão humana.

Moral são os princípios pelos quais se pensa a vida humana e tudo que a dignifica e honra. Pessoas se alimentando do lixo é imoral, bem diferente de se dizer que o adultério é imoral.

Somos moralmente guiados, quando não aceitamos a indignidade humana, a falta de respeito pela vida e existência de todos. Se o comprimento da saia está curto ou se as pessoas não se comportam isso é falsa moralidade ou moralidade burguesa e invenção de pessoas que se dizem puritanas, o que ninguém é, basta lembrar dos escândalos de padres pedófilos no mundo todo.

Ser solteira hoje tem a ver com a decisão de não aceitar a falta de dignidade e de compromisso que se estabeleceu como norma. Relacionar-se com alguém nunca foi fácil e as pessoas se sufocam em casamentos que são fugas da realidade, como se isso resolvesse alguma coisa.

Casamentos hoje ainda são arranjos financeiros, como sempre foram desde a época em que a família escolhia o noivo e as posses da família dele, para não perder a riqueza com um casamento que poderia falir economicamente a família da noiva.

Hoje é um arranjo para pessoas que ganham pouco e querem muito e fuga emocional da vida de batalhas lá fora.

A formação da personalidade das pessoas passou por profundas alterações desde a revolução industrial e as transformações do capitalismo. Conforme as relações sociais mudaram para relações fragmentadas (muito em função da Divisão Social do Trabalho), as pessoas começaram a mudar, de acordo com o acesso que tinham à sua parcela na sociedade.

A família perdeu a força, porque pai e mãe foram para a rua trabalhar. Os exemplos familiares e morais deixaram de ser transmitidos pelos pais e passaram para a escola ou a empregada doméstica que cuidava dos filhos. E pior ainda, para a televisão.

Somos uma geração sem personalidade.

Não sabemos o que é ter caráter e palavra. Somons fragmentados, assim como os processos de fabrição de massa de tomate: cada um faz uma parte, para não dominar a compreensão do processo como um todo.

Talvez a legião de pais e mães solteiros de hoje seja uma forma de rebelião contra a falta de personalidade e moralidade vigente.

Talvez seja somente um reflexo de personalidades frágeis que não tenham estrutura suficiente para a convivência.

Talvez seja um movimento altamente narcísico e encapsulado, de evitação do contato, da vida compartilhada.

Talvez, ainda, possa ser o último brado da autonomia individual daqueles que se sentem perdidos num mar de gente sem sentido e sem valor, mas que querem dar valor à sua e à de alguém mais.

Talvez possa significar muita coisa ainda.

sábado, 8 de agosto de 2009

Amorosos, guerreiros, santos e loucos: pais.


Amanhã é o dia dos pais. Este é meu pai.

Estou sem pai e sempre reflito sobre essa figura simbólica em que vários homens se transformam.

Qualquer pessoa sabe a força dessa palavra, sejam aqueles que tem pai, ou aqueles que nunca tiveram. Daí a força se desdobra.

Alguns homens anseiam pelo momento de serem pais e se saem muito bem no desempenho dessa função. Outros, nunca esperaram chegar esse dia e foram forçados a assumirem um papel social ao qual não estavam preparados ainda. Alguns outros nem sabem que são pais e não tiveram respeitado seu direito em sabê-lo.

Eu tive dois pais em um. Talvez até houvesse uma variação desses dois pais entre eles, mas isso fica difícil identificar.

Um pai era sonhador e sensível. Levava a gente pra acampar no quintal de casa e mostrava São Jorge na lua matando o dragão. Contava estórias e mais estórias. Cantava umas músicas estranhas em espanhol e italiano, que descobri depois quais eram . Contava causos da infância dele, sempre envolvendo alguma expressãozinha em espanhol. Levava a gente pra ver um ninho de beijaflor que ele havia descoberto. Ensinou a tocar violão, a ler partitura musical, a cantar e fazer duetos. Ele aprendeu isso sozinho. Era um pai, que como filho, chorava ao lembrar de sua mãe e pai que moravam longe.

O outro pai era duro e cruel. Era severo e intolerante. Se algo acontecesse fora de sua aprovação, era surra na certa. Surra com chinelo, varinha, cinto, o que fosse. Era calado, tinha dores de cabeça fortes e ficava trancado no quarto.

Eu nunca sabia quando um pai sairia e daria lugar ao outro. Acho que nem ele sabia.

Com 17 anos eu queria por tudo na vida sair de casa e me livrar das proibições exegeradas desse pai severo. Ele dizia " estamos no mundo, sem sermos do mundo!" e eu ficava doida, porque o que eu mais queria era ser normal, como todo mundo e estar no mundo, sim. Claro que o que ele dizia era que éramos diferentes, por sermos epiritualistas e não "mundanos", mas eu não entendia isso na época.

Despois que saí de casa era meu pai quem me ligava para saber de mim, da minha vida e de minha nova família. Era sempre dele a iniciativa em ligar, apesar de minha mãe proibí-lo de usar o telefone e gastar dinheiro. Ele telefonava assim mesmo, com a voz embargada, com sonzinho do choro engolido. Choro de preocupação e saudades misturadas. Era o pai doce.

Ele me disse coisas duras, ásperas, criticando minhas escolhas, assim como me disse coisas calientitas e amorosas, cheias de preocupação e carinho. Com o tempo ele foi mudando, assim como eu mudei e as críticas cederam para uma relação mais carinhosa e de saudades, já que eu, em 21 anos, havia voltado a morar perto dele por apenas 4 anos. E cuidei dele sempre que precisou.

Meus dois pais foram se calando com o tempo.

Com 60 anos ele adoeceu e só então soubemos que a vida inteira ele sofrera de uma doença psicoafetiva que fizera todos nós sofrermos com ela. Ora ele estava em delírios e era divino, doce e amoroso. Ora ele estava em depressão profunda e era tirano. Daí ele ter sido dois pais: o distúrbio bipolar havia feito ele se tornar dois em um.

O tratamento durou a vida dele. Com o tempo foi deixando de ser quem era. Nos últimos anos já não cantava tão frequente quanto antes e nem tocava mais a flautinha doce que eu comprei pra estudar na escola e havia abandonado meses depois. A flautinha havia ficado sob a custódia dele desde então.

Aos 72 anos ele escreveu um texto que seria um livro e atestou que não chegaria aos 73 anos. Nessa fase só ouvíamos o som de seu chinelo sendo arrastado pela casa, pra lá e pra cá. Ele emudeceu, deixou de ir à igreja como sempre fizera e brigara tanto para que fizéssemos. Dizia que a igreja havia se desvirtuado e virado mercado. E ele estava certo.

Aquele homem ansioso que sempre lutara contra a incerteza da vida e a insegurança de não ter o que dar de comer aos filhos no mês seguinte, estava entregando os pontos devagar.

Foi com ele que eu aprendi a dizer "meu amor" para meus filhos. Aprendi a dizer "meu anjo" e a ser ansiosa se eles saem e se demoram.

Foi ele quem me ensinou quão preciosos são os filhos e o quanto a gente pode sofrer por eles e ainda assim aguentar o tranco. Amá-los e deixá-los ir, apesar da dor que isso pode causar. E mesmo longe, deixá-los sempre saber que os amamos.

Incondicionalmente.

Meu pai que eram dois, me ensinou a ser sensível e observadora. Me deixou como legado a inteligência, perspicácia e iniciativa. Foi santo e louco e me orgulho dele integralmente.

Exatamente um mês antes de completar 73 anos, como ele havia predito, ele sai do coma induzido para o tratamento de leucemia e foi para outra esfera, outra dimensão. Esta semana, no dia 03 de agosto, contei os 4 anos em que estou sem ele.

Os pais talvez não saibam a força que tem. Em suas lutas diárias talvez não se apercebam que é em suas fraquezas que são fortes e que se tornam tão presentes dentro de nós, filhos.

Ser pai é se tornar tão grande somente por ter recebido esse nome.

E nossa função como filhos é torná-los heróis imortais.

Salve os pais amorosos, guerreiros, santos e loucos do mundo!

sábado, 25 de julho de 2009

Estórias de casamentos



Sem querer peguei o filme "O casamento de Raquel" parar assistir hoje, uma semana após o casamento de meu irmão. E antes de viajar, meu filho lembrou do filme argentino "Família rodante" e rimos juntos ao recordarmos algumas passagens.

A coincidência ficou pelos dramas que as famílias arrastam em suas tramas de relações intricadamente estabelecidas ao longo do tempo: os filmes mostraram os percalços daqueles que se dispuseram ao casamento e minha ida ao Mato Grosso não foi diferente.

Assistindo ao filme hoje, vi como as memórias, os comportamentos previsíveis, as dores que brotam apesar do esforço em apagá-las, a busca de reconciliação aconteceram nos filmes e na minha vida real.

O casamento de meu irmão foi um acontecimento à parte. Ocorreu na região mais exotérica do país, entre a serra mágica e a pororoca do rio Araguaia. Foram 1.500 km percorridos de minha casa até lá, com uma pausa em sampa pra mais estórias, antes de seguir viagem.

Houve o deslocamento de minha família imediata, com custos emocionais e financeiros, claro. Mas todos fomos até a barra do rio ao pé da serra mágica.

Eu acredito que foi devido à uma mulher apenas que tudo aconteceu. Uma estranha. Conheci Dora nos dias que antecederam o casamento e ao saber dos preparativos, percebi que fora ela a responsável por toda aquela movimentação. Várias pessoas estavam envolvidas e tomaram as iniciativas para que o casamento acontecesse, mas não fosse o desejo de Dora, talvez o casamento não deixasse de ser uma idéia.

Todas as queixas pelas dificuldades de todos para chegar até lá, tiveram início pelo desejo de Dora. Sentimentos os mais variados brotaram e fizeram suas bagunças, graças aos caprichos de Dora.

Presenciei muitas dores, alguns medos, vários silêncios reprimidos que gritavam aos meus ouvidos. Participei de momentos felizes, de descontração e de momentos muito engraçados.

Ouvi muitas risadas e saudades escondidas nelas. Chorei baixinho, bem escondidinho, as saudades que senti. Dormi enternecida ouvindo os risos da família que me acolhia, todos dormindo juntos, como em um grande acampamento no quarto do pai da noiva.

Entrei, de mansinho, na vida de pessoas que eu nunca vira antes. Ri com elas, fui bem recebida e tocada por elas, fiquei "perdida sem pai, nem mãe" (como eu cantei algumas vezes) e orbitei ao redor delas. Fui acolhida pela família que eu nunca havia visto e não fui exatamente acolhida pela família que eu tive um dia. Laissez-faire!

Mas foi em função de Dora que, também eu, sofri, tive medo do que poderia acontecer. E fui feliz, graças à ela, pelos momentos calorosos, de solidariedade, de carinho dos quais participei. E o significado de seu nome, é nada menos que "presente".

Dora esteve presente em alguns momentos. Várias vezes notei que tinha os olhos marejados por lágrimas. Talvez quisesse participar ou somente sentia uma dor, um desejo, um sonho. Seu rosto inclinava e seu pensamento estava ausente. Era estranha à mim e eu à ela. E assim como eu, ela orbitou em torno da arrumação do casamento, da cerimônia, da festa.

Sem Dora, talvez nada tivesse acontecido da maneira que foi. Nenhuma confusão teria tomado lugar, nem os deslocamentos de várias pessoas até sua cidade. Muito menos os encontros, as recordações felizes, as saudades que foram sumindo graças à presença das pessoas que as causaram.

Dora não sabe com quão gracioso presente ela nos brindou.

domingo, 28 de junho de 2009

Sweet dreams are made of this


Domingão à noite, meu filhão comigo aqui em casa, muitas conversas e idéias novas. Mas para postar não sobrou muito tempo.

Vai então uma foto do show do Nega Fulô, do dia 20/06, "disco dancing" como diz Borat.

À cada fase da vida nós vamos nos moldando, nos construindo e reconstruindo.

Vamos aprendendo a ser melhor nós mesmos.

Na foto, Rafael e Cristina, meus novos amigos e co-autores da Srta Fisher, que in realtá é criação da Eveline e a turma decidiu por adotar-me sob este nome.

Sweet dreams are made of this!

sábado, 27 de junho de 2009

Mulheres como homens mal acabados



Eu estava escrevendo outro texto, iniciado outro dia e com outra perspecitva. Porém, ao terminá-lo, não me senti satisfeita

Troquei de página branca e comecei este com a última frase do outro: O problema é que as mulheres se transformaram em homens mal acabados e tudo virou uma grande messaround!

Como mulher tive anseios de igualdade, agi, deixei aflorar minha intelectualidade, lapidei minha inteligência e tomei as rédeas de minha vida, tanto familiar, como financeira. Escolhi caminhos pouco ortodoxos e tenho os rumos do meu destino (pelo menos, eu acho isso).

Porém, nesse trajeto todo não deixei de observar o que as mulheres fazem e desejam e fui me questionando sobre o que via.

O papo de igualdade com os homens, levou as mulheres a uma deformação, que à mim é nauseante, imagine aos homens!

As mulheres hoje bebem demais. Empunham copos de cerveja como se fossem espadas. Dão vexames homéricos e perderam a noção de onde estão seus sapatos.

As mulheres hoje acham bunda de homem uma coisa linda! De onde elas foram retirar isso? Há tanta coisa em um homem para se achar lindo. Só podem estar assimilando o que ouvem e trocando o objeto.

As mulheres hoje dirigem mal. Tem atitudes masculinas ao trânsito e só faltam cuspir pela janela. Onde foram parar o bom senso e os bons modos?

Fico atônita ao ver mulheres lindas, cabelos chapadinhos, roupinhas fashions, porém dando cantadas e chamando homens para sair.

Há outras que chegam pegando e levando e depois caem em crises federais, porque a atitude não foi nada digna. Perdem-se. Esfacelam-se, virando nada.

E os homens adoram. Não tem trabalho de ir caçar. Tratam as mulheres como colegas (chamam de meu, porque perderam a capacidade de distinguir).

Você pode estar achando meu post careta. Não é.

Quando as diferenças perdem a fronteira, há algo errado. A simbiose entre homens e mulheres é sintoma de que algo está errado.

Para ser alguém, não é necessário imitar o outro. Isso é sinal de que as mulheres perderam o rumo da própria casa e muitos homens sabem se aproveitar disso.

Ao mesmo tempo tenho ouvido alguns homens dizerem suspirando e em tom melancólico: "É tão lindo ver mulher usando saia! É isso que nos lembra que elas são diferentes de nós!"

Bons tempos aqueles!

Sayonara!

domingo, 21 de junho de 2009

Ensaio sobre a Cegueira



Peguei o filme sem acreditar muito no resultado, uma vez que não gosto de Saramago e sua filosofia um tanto quanto rasa. A estória confirmou minha suspeita.

Porém, o filme foi muito bem construído e tenho que reconhecer que o final conseguiu mudar todo meu o roteiro preestabelecido.

As cenas do filme de Fernando Meirelles, de cara, me fizeram voar à lugares meus conhecidos: as casas antigas de São Paulo, o estilo art-nouveau de alguns lugares no centro velho, as balaustradas de bares do início do séc. 20, aquelas cenas familiares da capital paulistana. Maior emoção foi ver a recém construída Ponte da Água Espraiada. Orgulho bobo de paulistana desterrada.

O filme foi muito bem planejado, com esmero artístico, a dessaturação de cores que migram diretamente para o branco, as cenas indicando a barbárie sem mostrá-la cruamente, apesar de que o diretor assume que havia sido mais "contundente" nas primeiras versões.

Pois bem, a idéia de cegueira colada à perda da humanidade eram latentes ao se observar o tema e o que pretendo refletir coincide com meu último post existencialista sobre a red-haired choice e possui dois pontos básicos:

Onde está nossa cegueira?
E onde está nosso ponto cego ou nossa cegueira psicológica?


O diretor em seu blog comenta que ao mostrar a 4ª versão do filme, obteve comentários que deflagravam sua própria cegueira, como a "gelatina inútil", termo que ele usa retirado de Rei Lear.

A primeira questão nos faz pensar: eu me enxergo?

A esposa do médico, protagonizada por Julianne Moore logo ao início está cozinhando, servindo e ouvindo, funções femininas e um tanto quanto maternas. Não ouve bem seu marido médico (liga a batedeira bem alto, enquanto ele conta sobre o caso de cegueira). Ela não se enxerga e não se conhece.

O médico, seguro de si, procura encontrar uma hipótese para a "cegueira branca" ou agnosia (incapacidade emocional em reconhecer objetos). Durante o filme e as condições extremadas que se instalam, o médico depara-se com sua impotência e fraqueza humana.

A garota de programa não pode tirar os óculos escuros, porque não pode enxergar sua condição sub-humana.

E por aí vão as estórias de nossa condição pouco auto-perceptiva.

Lembrando do texto de Roberto DaMatta (autor já citado neste blog), nós não nos enxergamos sem o Outro. Precisamos do Outro como Espelho e Guia. E eu acrescentaria que precisamos do Outro para buscarmos nossa humanidade. Mas é necessário enxergarmos e vermos o Outro e através dele, nós mesmos.

Parece que o autor, Saramago, quis nos fazer pensar que a humanização vem de um instinto que seria a proteção e auto-proteção da espécie, preliminarmente mostrados na função feminina da esposa do médico.

Como única pessoa vidente, ela pode decidir e guiar. Ao início, procura manter sua condição de Diferente dos outros escondida. Está encolhida, porém cuida e guia. Demora a assumir a responsabilidade pela humanidade inteira e vencer sua falta de coragem e adaptação ao que está imposto.

Somente quando deixa sua consciência e humanidade levá-la, assume e age, guiando, protegendo e mantendo o grupo. As ações que se desenrolam nos levam a questioar onde está nossa humanidade e o que é moralmente aceito. É o que Saramago quer fazer refletir.

A esposa deixa de ser esposa. Passa a ser guerreira e líder que "tem visão". O velho negro diz ver quem ela realmente era, para além da aparência e fragilidade física. A mulher tirou de si a energia que precisava para manter e proteger.O marido fica em sua obscuridade e fraqueza de caráter.

Como ela, nós não nos enxergamos, porque estamos ensimesmados demais para olharmos no Espelho dos olhos dos outros. Não vemos, como somos vistos. Não "conhecemos, como também somos conhecidos" , parafraseando um pouco.

Aceitar que temos "pontos cegos" é sermos feridos demais em nosso narcisismo e a maioria de nós não se abre para tal. E ao estarmos tão encapsulados, perdemos a capacidade de receber, aprender e mudar.

Nossa cegueira psicológica está em nosso narcisismo pouco afeito à arranhões.

Eu teria algo mais à comentar, porém estragaria o final do filme. Sem ter os olhos dos outros, como a mulher se enxerga?

Veja o filme!

Existencialism & Red-Haired choice


Você é o que você decidiu ser.

Aqueles que dizem "eu sou assim, porque fizeram isto e aquilo comigo" estão se desculpando pela falta de coragem.

Eu ouvi uma vez que a única responsabilidade que lhe foi dada é "cuidar bem de você"!

Portanto, não adianta usar a Katia' Syndrome e dizer que "o mundo quis assim".

O preço da liberdade é o ar gelado e rarefeito das alturas. É a solidão da singularidade, ao contrário de ser "povo marcado, povo feliz!"

Pague o preço, o preço da autonomia e individualidade, decidida com consciência e responsabilidade.

Depois que você atravessa para o outro lado, o único preço a ser pago é a responsabilidade para consigo mesmo. E sendo responsável por você, você será responsável pela humanidade inteira, como Sartre disse. Se você escolhe ser humano, logo, torna-se responsável por todos os outros seres humanos e a civilização agradece.

Ouvi inúmeras vezes que sou corajosa e várias pessoas dizem admirar minha atitude diante da vida.

Atitude, como um conceito em psicologia, significa que deve haver coerência entre o que uma pessoa pensa, sente e como ela age. Esses três aspectos devem estar em consonância. Daí sim, podemos considerar que a atitude de uma pessoa é consistente.

Quando empunhei a bandeira na minha cruzada em busca da autonomia e iniciei meu processo de divórcio, as pessoas vinham me questionar e tentavam mostrar que não era boa idéia. O que o medo de mudanças faz com as pessoas, não é?

Freud considera que a civilização trouxe benefícios ao ser humano, principalmente no que se refere à repressão dos impulsos, para que haja civilização.

Porém, acrescenta que o ser humano trocou a liberdade pela conveniência. E isso trouxe infelicidade e corroeu imanentemente a civilização. Nem preciso comentar as doenças de nosso século: depressão, ansiedade, estresse/angústia, anorexia, obesidade, e por aí vai.

Ainda pensando em termos existencialistas, cada pessoa é um devir e em construção constante. À cada dia eu me torno mais eu mesma nas minhas decisões e ações, que me negam e me confirmam. Dialeticamente, a individualidade se contrói num vir-a-ser contínuo, dependente das possibilidades que são criadas ou não.

Escolhi ser Red-haired pelo significado e pela expressão de minha personalidade e força. E isso só me custou escolher a cor da tinta.

O restante, foi comigo mesma.


Se eu calei foi de tristeza
Você cala por calar

Zé Ramalho

sexta-feira, 19 de junho de 2009

As falácias do RH


Em tempos de Gestão de Pessoas, ainda ouvir alguém falar em RH é de, no mínimo, azedar os sentidos a ponto de nos gerar uma careta (tipo quando você chupa limão).

Estamos desde meados dos anos 70 em transformação social, em mudanças de costumes e práticas, repensamos a moral e a transformamos em ética individual.

Ao mesmo tempo em que a mundialização do capital foi sendo estabelecida, os movimentos sociais empenharam-se em bradar em favor de causas humanas e ambientais, gerando assim um movimento de equilibração internamente ao capitalismo, até então predatório. Não que hoje tenha deixado de ser, mas é justamente pelas forças sociais que marcharam contra o absolutismo capitalista que chegamos à era da tentativa de equilibração.

Nem entrarei no mérito da possibilidade de apenas resistir ao sistema, que Adorno e Horkheimer apresentavam, porque se assim eu o fizesse estaria desistindo deste texto. Preciso ter algo em que apoiar minha observação.

Pois bem, os movimentos sociais equilibram as forças e a administração confluiu à readaptação que o capitalismo se auto impingiu. Como bom sistema dominante, auto-molda-se pela sobrevivência (e não falo em biologismo aqui).

Com o fim da reengenharia e início da era pró-trabalhador (que sem ele não há produção e nem explorados) a antiquada estratégia de Recursos Humanos migrou para a Gestão de Pessoas, mas adequada aos novos tempos que já se instalaram.

É inadmissível hoje uma gestão de pessoas que não respeite as pessoas. Que as deixe por último no processo de trabalho e produção de mais valia. Que não as ouça e não fale com elas.

Mais inadmissível ainda é um gerente de gestão de pessoas que não atente à época em que estamos e não se adapte à ela. Recursos Humanos vem da época em que o homem era só mais uma engrenagem na roda capitalista. Alguém que ainda pense assim está, no mínimo, envelhecido.

Gerir processos humanos na administração hoje exige, antes de mais nada, humanidade e bom senso.

Se você é um gerente (ou tem um gerente) que não orienta, não avalia o desempenho e não corrige atos ou comportamentos do trabalhador, não pode dizer que está tendo problemas com ele. Isso é depor contra si mesmo.

Ao mau trabalhador está primeiramente colada a má gerência e liderança. E as palavras proferidas dizem mais sobre quem fala do que sobre o que se está sendo falado.

Cuidado com as falácias do RH, travestidas com a "pele" de Gestão de Pessoas.

Se é de pessoas, no mínimo, deve respeitá-las.

Maktub.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Santas Expressões Idiomáticas!


Exatamente.

Santas expressões idiomáticas que me fizeram passar algumas poucas e boas.

Como eu contei no post da Pocahontas, sou estrangeira em terra estrangeira desde os 9 anos.

E gosto da minha vida livre de Zíngara, de Gypsy, de Cigana. Já pensei até em comprar um Vurdón e viver nele (o Vurdón é a carroça cigana com tenda redonda por cima!).

O pó da estrada nos ensina muitas coisas. A primeira delas é que você é, foi e sempre será você mesmo.

Sempre que precisar, sabe que é com você mesmo que tem que contar em primeiro lugar. Aprende a confiar em si e a resgatar tudo o que aprendeu.

A segunda coisa é que não importa aonde você for, nunca fugirá de você. Portanto, desista se você tem a idéia de "rodar o mundo" pra fugir dos problemas. Eles, ou melhor, o causador da maior parte deles irá junto de você.

A terceira coisa é que não adianta você se camuflar e tentar mimetizar os usos e a fala do lugar. Esqueça que vai conseguir falar igual aos nativos. Seu sotaque denunciará você, onde quer que você for.

Sotaque??? Sim. Todos nós temos sotaques e quanto eu me flagrei falando "você está entendendo" em sala de aula aqui no Paraná, percebi que meu jeitão paulistano não havia desaparecido. Coloque bastante som nasal nos N dessa palavra e perceberá o que estou dizendo.

A capital paulistana impingiu marcas indeléveis em mim, das quais eu nunca me livraria, mesmo que quisesse. Quando no trabalho eu chamo minha amiga paulistana de "Janethi" e acrescento "você quer "leithi quenthi"? ela entende bem sobre o que estou brincando. Sobre nossa homesick.

Mas até agora só falei de mim, santa egocêntrica que pareço ser!

A questão complicou e ficou engraçada, quando alguém falou comigo, lá em Irati, no meu primeiro mês como nova moradora da cidade.

Alguém virou e me pediu "E., me alcança o lápis?". Eu olhei o lápis ao meu lado, olhei pra ela, ela olhou pra mim e num lapso de alguns segundos pensei "o que será que ela quer dizer com alcançar?". Entendi que era "pegar" o lápis e atendi ao pedido.

Mas aquilo ficou soando estranhíssimo aos meus ouvidos...Saindo dali uma aluna, caminhando comigo e observando o ceú me diz "o céu está brusco hoje, não é profe?".

Brusco?? Santas expressões idiomáticas!

Olhei para o céu e como estava "enfarruscado", entendi sobre o que a aluna solicitava minha confirmação.

Mas agora peguei você de jeito, não é? Enfarruscado?

Talvez quem seja de São Paulo entenda o que eu disse. Esse adjetivo quer dizer "nublado", "tempo instável", da mesma forma que brusco.

O estranhamento se deu devido ao significado que "alcaçar" e "brusco" tem para mim, falante de portugês igualmente a meus interlocutores.

"Alcançar" significa esticar-se para tocar algo em um lugar mais "alto".

"Brusco" significa algo que "movimentou-se rapidamente e de forma inesperada".

Mas o gran finale vem agora.

O Denzos, amigo de meus filhos estava lanchando em casa numa tardinha morna qualquer lá em Irati e ao concluir seu lanche, me disse "Deus que ajude"!

Parei, olhei pro Davi, depois olhei pra Raquel...e depois de algum silêncio eu disse ao Denzos:

"O que eu tenho que dizer agora?"

Holy God!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Srta Fisher


"Olá! Você é a Srta Fisher, não é?"

Foi assim que a Karini veio me cumprimentar (e eu não sabia quem era a Karini até então!).

Olhei pra ela, ela olhando pra mim e sorrindo por detrás daquele girassol na roupa junina!

Daí combinamos baladas regadas à merengue, salsa e rumba lá em Curitiba, sinal que a empatia rolou legal.

O que quero dizer hoje é:

"QUEM É ESSA SENHORITA FISHER?"

Viram algo dela em mim e quero saber o que é, porque "senhorita" não deve ser!

Como eu escrevi outro dia sobre O Chamado, ser chamada por alguém pode ser tanto para o bem, como para o mal e.....quem diabos é essa tal?!?!?!

Tudo começou com a Eveline, numa tarde preguiçosa de sábado, depois de uma feijoada divina e em meio à um dolce far niente vespertino.

A Srta Fisher nasceu em mim e ainda nem sei como representá-la direito.

Claro que estou brincando com a nova alcunha que ganhei e já fui pesquisar. Mas não estou satisfeita, como uma boa ruiva mal comportada que sou.

Lady Tangerine também foi crição coletiva. O Tangerine veio após ver um filme e assumi de cara o nome.

O Lady foi adiconado carinhosamente pelo Álvaro que assumiu a autoria e o uso e manteve sua participação como co-autor do meu alter-ego. Até na festa de fim de ano, lá na frente e ao microfone anunciou que Lady Tangerine havia ganho o prêmio.

Da situação me lembro bem, mas do prêmio, não me pergunte que não tenho idéia do que tenha sido!

A força do nome. A composição de elementos percebidos e a intuição funcionaram no exemplos que demonstrei à você.

Foi tão forte a ação de composição da Eveline e do Álvaro que os nomes funcionam e foram adotados pela "receptora" (e olha que eu sou crítica³!).

Foram chamados para o bem!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Ano da França


Enquanto aguardava o momento para conversar, pedi à secretária alguma coisa para ler, porque eu não gosto de ficar "cuidando" de quem passa e já tinha lido duas vezes inteiras o folheto que estava sobre a mesa.

A moça, gentilmente saiu para procurar "algo" para eu ler e trouxe um punhado de jornais...do mês de MAIO. Disse que era pra eu, pelo menos, me entreter com as figuras.

Sorri, um sorriso amarelo, para não ser indelicada, agradeci e abri o jornal de traz para frente.

Sim! Adoro começar a leitura de jornais e revistas pelo fim: as melhores notícias sempre estão ao final!

Cheguei muito rapidamente ao encarte (estava tããããão interessante aquele jornal de 20 de maio!!) e me dediquei um pouquinho mais à notícia: Ano da França no Brasil.

Opa!
Assunto interessante. A matéria seguia informando a abertura de uma mostra no Museu da Língua Portuguesa em sampacity e destacava que nossa língua assimilou umas tantas mil palavras do francês.

Daí decidi desafiar você para um duelo de palavras.

Quantas palavras você usa que sejam francesas ou de origem francesa?

Tempo!

Eu amo brincar com expressões e palavras e, neste desafio sairei em vantagem!

* Quando você vai explicar aquela cor de vinho: Bordeaux (que é o nome do lugar onde esse tipo de vinho é produzido)

* Quando você acende a luz fraca do quarto: Abajour

* Quando está olhando de dentro de casa para fora pela janela do banheiro, olha pelo: Vitraux

* A Tatiana, minha querida amiga enfermeira viva falando que queria comer um: Petit Gateau

* Na padaria você pede uma: Baguete ou um pão...francês

* Se você tem motorista particular você tem um: Chauffer

* Quando alguém espiona os outros é um: Voyer

Ai, cansei!

Mas a brincadeira não pára! Aumente seu vocabulário em francês:

Dossiê, toalete, carnê, garagem, menu, enquete, mousse, omelete, batom, garçom, croissant, bidê (aquela peça do banheiro!), soutien, colant,edredon, guichê, Metrô, maiô, manteau, Robô, Tricô.

Vive la France!

domingo, 14 de junho de 2009

Cores do vento


Hoje, um domingo perfeito, ensolarado e frio, uma bike tinindo de preta (ah, meu corcel e a força do cavalo é minha!) e a nice song flowing in the ears.

Passando ali pela Com. Becker, um cheiro maravilhoso de ciprestes me invadiu. Ali, logo atrás das quadras do Sesc e na frente da Gouveia.

O aroma forte e cítrico me fez flutuar de saudades dos pinheirinhos de natal que duravam 1 semana e, no meu caso, da infância, quando aos 9 anos saí da capital de São Paulo e fui morar numa chácara no interior do estado, quase divisa com Minas Gerais. Lá os ciprestes faziam a cerca viva da chácara com a rua e minhas galinhas e patos iam se esconder lá embaixo, de quando em vez.

Deslizando a rua e saboreando as lembranças instantâneas, de repente percebi que a música mudara. Era Colors of the wind, na voz americana de Pocahontas. Aliás, para mudar a imagem infantil que a Disney imputou sobre nosso imaginário, assista ao filme "O Novo Mundo"(2005), com Colin Farrell, que nos traz uma versão mais adulta e singela.

A heroína Pocahontas diante de um Captain John Smith atônito considera que ainda não conseguia saber se o selvagem era ela:

You think the only people who are people,
Are the people who look and think like you,
But if you walk the footsteps of a stranger,
You'll learn things you never knew, you never knew
.*

* Tradução:
Você pensa que as únicas pessoas que são pessoas,
São as pessoas que parecem e pensam como você,
Mas se você seguir os passos de um estranho,
Você aprenderá coisas que nunca saberia, nunca saberia.



Eu estava pensando nisso há alguns dias atrás. Aliás, eu sempre penso nisso, por ser estrangeira em terra estrangeira desde os 9 anos.

Daí, quero escrever um pouco sobre o sentimento de Estranhamento com o qual sempre nos deparamos. O termo foi desenvolvido pelo antropólogo Roberto DaMatta, autor que conheci nas aulas de Antropologia com o Luiz Henrique Passador (que saudade!).

Estranhamento é quando nos deparamos com o outro, diferente de nós e passamos a definir "o que é" e "o que não é". Você sabe que a palavra discriminar quer dizer "fazer a diferenciação", logo, ao pensar "isto é azul e não é branco", você está discriminando uma cor da outra (e, claro, não está sendo preconceituoso).

No Estanhamento, a Diferença aparece no confronto entre pessoas e culturas e, ao deparar-se com o Diferente, nossa Identidade cultural sofre uma ameaça e só escapamos dela através da discriminação.

Até aqui qualquer pessoa estranha e discrimina e você estaria esculhambando meu texto se estivesse enfadonhamente pensando isso. Calma.

O problema é quando discriminamos e agimos com preconceito, estabelecendo posições, privilégios, diferenças à partir de nossos próprios valores. A pessoa preconceituosa pensa, sente e age à partir de sua própria visão de mundo, sem pensar realmente na Alteridade, naquilo que o Outro pode mostrar e ensinar. Quando acolhemos o Outro na sua diferença, daí sim, aprendemos a pintar com todas as cores do vento, expressão que Pocahontas apresenta à John Smith.

Na Antropologia Etnológica ou Etnologia o Estranhamento é um conceito dentro do pensamento que chamamos Relativização: cada ser humano vê o mundo sob a perspectiva da cultura em que nasceu, porém nos estudos etnológicos, a pessoa deve relativizar a nova cultura com a qual entrou em contato, assim como relativizar as suas próprias noções e valores.

Logo, entra-se num processo de Estranhamento, quando pensamos os valores do Outro no seu próprio contexto, vemos as relações que tem um início, uma transformação e um fim, nos identificamos com ele (esse Outro) e ao mesmo tempo passamos a refletir sobre os nossos próprios valores.

Segundo o Luiz Henrique Passador, as particularidades de ambos os lados se destacam e a sua posição muda ligeiramente em relação à posição em que você estava no seu grupo de origem e se diferencia, quando você passa a refletir sobre a Diferença e suas "verdades absolutas". Você passa a ser diferente do que era e isso exige mudança.

É no Contraste que conhecemos. E contraste pode começar com preto e branco.

Todos somos diferentes, apesar de sermos iguais. Ou você quer que eu altere a ordem? Todos somos iguais, apesar de sermos diferentes.

Voi-lá!

Estranhe o que é diferente de você e pense sobre ele.

Você quer pintar com todas as cores do vento?


How high does that sycamore grow?
If you cut it down then you'll never know!

And you'll never hear the wolf cry to the blue corn moon
For whether we are white or copper skinned
We need sing with all the voices of the mountain
We need paint with all the colours of the wind!

You can own the earth and still!
All you'll own is earth until,
You can paint with all the colours of the wind!

Carta de uma mãe à um filho jovem


Filho:

O mais importante na vida é você caminhar em direção à você mesmo.

Há uma música que diz " Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim. Manso ou atroz, doce ou feroz. Eu, caçador de mim!"

E ela continua "Nada a temer senão o correr da luta. Nada a fazer senão esquecer o medo. Abrir o peito à força, numa procura. Fugir às armadilhas da mata escura".

O Milton Nascimento poderia bem estar falando da análise.

É assim que a gente se conhece: tem que ir atrás de você mesmo, se caçar, visitar os lugares mais escuros aí dentro, não ter medo deles. Não correr da luta (ele diz que só isso devemos temer: correr da hora de lutar).

A gente encontra o que sempre soube que estava lá. Só que a gente reprimia, negava, deslocava pra outras coisas, culpava os outros, fugia, escondia, jogava embaixo do tapete.

Na análise não tem isso. É você com você mesmo. É como se você olhasse dentro de um prisma: tem que revirar todos os ângulos e cantos. Conforme você mexe, as coisas saem do lugar (como no caleidoscópio). Daí você vai pra casa e pensa e sente. E não consegue entender, porque ao mexer, saiu do lugar.

Volta na terapêuta e diz que não entendeu e mexe de novo, dói e a gente chora e grita. Fica com raiva dela, porque "ela" é que é isso ou aquilo...vai pra casa, morre de raiva, mas volta no horário seguinte, porque não parou de mexer no assunto e pensar e sentir.

E assim vai. A mãe entre nessa ciranda de raiva e amor, o pai entra, os irmãos, o mundo, as notícias da tv, a vida que é injusta, o dinheiro que nunca basta, e assim por diante.

A gente sofre e chora tudo que tem pra chorar de frustração para com o mundo e os outros.

A gente odeia e se encolhe, porque ninguém entende a gente. A gente tem pena da gente mesmo e se odeia.

Mas sempre sai disso e a vida lá fora da terapia está rolando, o sol está brilhando, a crise econômica continua igual.

As pessoas estão vivendo e morrendo. E a gente está em outra dimensão: a que é exclusivamente sua.

Você vai entrar num mundo só seu. E encontrar seus monstros e heróis. Você vai odiar o que encontrar, mas vai querer voltar lá, mais e mais, porque você quer saber o que tem do outro lado.

Afinal, você quer saber quem você é de verdade.

Saber aquilo que você consegue e principalmente aquilo que você não consegue fazer. Saber o que tem que fazer pra conseguir. Sofrer com a impotência e arrumar forças pra vencê-la. Ou aceitá-la tranquilamente e partir pra outra. E ainda assim continuar sendo você mesmo. O tempo todo.

Todo o mundo está lá fora e nem percebe a sua luta.

Mas você está lá: bravamente lutando. Desesperadamente lutando, até.

E só revirando cada canto escuro do teu prisma que a tua luz vai sair multicolorida e linda do outro lado de você mesmo.

Não tem outro caminho. Só esse.

Você vai lutar contra você mesmo e à cada luta vai sair mais e mais fortalecido. Não é a luta do bem contra o mal, que isso a religião criou pra sacanear as pessoas.

Você vai lutar contra a frustração, a pena de você mesmo que te mantém paralisado. Vai lutar contra a sua autocritica que te pune e vai aprender a se aceitar melhor. A se perdoar e se amar, não deixando que a culpa te castigue.

Aqui fora as pessoas até podem reclamar. Vão reclamar que você não é mais o mesmo. Que você está malcriado ou egoista. Que você não dedica mais o tempo que dedicava à elas antes.

Mas isso é em vão. Elas reclamam, porque estão te perdendo, estão perdendo as regalias que tinham, enquanto te controlavam, enquanto você está se ganhando pra você mesmo. Vão reclamar, sim, enquanto você está se fortalecendo, se entendendo e aprendendo a dizer NÃO aos parasitas, aos encostados (que adoram se jogar em cima dos outros para os outros carregarem).

Você vai aprender a ver teu prisma e deixar tua luz brilhar e vai aprender a reconhecer isso nas pessoas. Isso vai te ajudar a escolher melhor as companhias e a escolher pessoas e situações que te ajudem a crescer e se desenvolver e a rejeitar aquelas que te escravizam.

Suas decisões serão maduras e mais acertadas, porque você estará consciente, lúcido e com os olhos bem abertos. Como Sidarta que chegou à iluminação.

Primeiro ele saiu do palácio, descobriu a miséria, a dor, a morte e se tornou asceta. Não comia, nem bebia e só meditava.

Até que ouviu um mestre dizendo ao aluno: "Se você apertar a corda do violão demais, ela se rompe. Se você deixar a corda muito frouxa, ela não emite seu som. Precisa apertar a corda no meio, na medida certa."

Sidarta entendeu que o Caminho do Meio era o caminho certo. E meditou. E venceu a ilusão, venceu o medo, venceu a frustração, porque se colocou para além dos bem mundanos e das vaidades.

E assim chegou à sua luz própria, ao NIRVANA. E daí passou a ser chamado de "BUDA" que quer dizer "o iluminado".

O caminho do teu nirvana está à sua frente e dentro de você.

É só seguir que a gente te espera lá do outro lado do túnel, filho!

A gente te espera onde a gente sempre esteve: aqui fora!

Te amo incondicionalmente.


Como sempre foi.


Como sempre será.


MÃE.

sábado, 13 de junho de 2009

Dramaticidade trágica do Tango


Calma. Não fui redundante.

O objetivo do título era causar mesmo. Quem me conhece, sabe disso. Gosto disso.

A questão é sobre o Tango. A gente cresce ouvindo músicas as mais diferentes e isso acaba fazendo você se tornar um cidadão do mundo.

A música bem feita comunica-se com nossa alma, retira dela os anseios e desejos, libera nossa instintividade e deixa que a gente alce voo (sem acento circunflexo, de acordo com a reforma).

Pois bem, ouvi músicas de todos os tipos no radinho da vitrolinha azul parecida com esta aqui.

E como uma boa "mala sangre español" que sou, ouvi estórias de filmes mexicanos, de contos espanhóis (do meu pai) e músicas em catellaño que minha mãe e tia ouviam (elas não sabem que eu prestava atenção nas conversas delas).

E daí o Tango foi paulatinamente entrando no meu imaginário.

A situação ficou pior, quando toda a dramaticidade que eu via na vida e a forma como eu às vezes reagia à ela, estavam todas refletidas naqueles sons fortes, cheios de arrastamento e letras trágicas.

TANGO é palavra africana e significa "escondido". Se você observar bem há elementos da capoeria de Angola nas milongas dançadas juntinhas e quase abaixadas, como se fosse um desafio que cada um do par faz ao outro. Parte da história do Tango você pode acessar neste site e se quiser ver um contemporary dancer de verdade, com verve, veja Pablo Véron dançando logo abaixo, em cena do filme The Tango Lesson. Pesquise.

Tango é drama, como a vida é drama. Sofrer, lutar, fracassar e levantar novamente. Um drama trágico, como a vida é trágica, às vezes. Está tudo ali nos acordes e harmônicas, desenhando um mosaico de sentimentos e sensações exuberantes, que nos transbordam.

Hoje temos as versões do Tango eletrônico, como o Gotan Project (meu preferido), o Tangheto (talvez o primeiro grupo), o Otros Aires e o Bajofondo (que alguns devem ter ouvido na abertura da novelinha...ica!), além do Narcotango e outras versões.

Tango faz meu sangue pulsar nas veias velhas. Abre minha instintividade e me enche de vida.

Vale!Como en un buen saludo español!


Para seu prazer aqui está The Tango Lesson, con Pablo Véron, filmado em P&B na décado de 80. A música é minha favorita Libertango, de Astor Piazzolla.



Este tango eletrônico é do Otros Aires e traz elementos árabes misturados. Ouça.
Também é possível observar os elementos africanos na milonga.



E para uma overdose de Libertango, uma apresentação de patinadores no gelo. Fantástica!