quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Che, el Argentino.



Ernesto Guevara era um homem comum. Um argentino comum, como os argentinos.

Tinha sonhos, ambições e um lado humano aguçado: escolheu ser médico pelo serviço às pessoas, por sua doença incurável ou até mesmo escolheu ser médico pelo status. Não sabemos.

Sua imagem é forte, sempre trajando uniforme miliciano e ao empunhar os famosos charutos cubanos, adicionava mais força ainda à imagem.

É isso.

Ernesto de la Sierna Guevara criou uma imagem de si.

Ao deixar Buenos Ayres em uma motorcicleta para conhecer a Améria Latina era ainda "el fuser", porém, ao se deparar com as realidades, continente acima, vai sendo transformado por elas e sua identidade vai mudando.

Isso é fácil observar no filme "Diários de Motocicleta" de Walter Salles, descontando o fato que El CHE era um homem grande e robusto e nosso querido ator Gael Bernal é franzino e baixinho. Talvez isso ajude na construção dessa identidade imagética: de franzino à robusto durante a tranformação de homem à imagem.

Ernesto se transforma ao ter em mãos a literatura de José Martí. Ernesto reflete sobre a realidade que vê. Ernesto sente e vai mudando de atitude.

Já no filme "CHE, el Argentino" de um diretor americano e produção de Benício del Toro (que estrela o filme), vemos o CHE robusto, mais próximo do real. Destaque dou ao Raúl, irmão de Fidel Castro, "coadjuvado" por um Rodrigo Santoro feioso e com poucas falas em espanhol para não demonstrar sua pouca habilidade com a língua. Pobrecito!

A selva tropícal úmida, arrastada e pegajosa é a tópica do filme que retrata a tomada de Sierra Maestra, início da Revolução cubana. Novo desconto deve ser dado ao diretor que "tentou" usar técnicas de documentário e "real time" no filme. A parte mais interessante foi a registrada em P&B com cenas com foco excentrado e algum movimento folhetinesco, como um documentário.

Já a parte colorida era como a selva cubana: úmida, arrastada e pegajosa. Até Che Guevara era flaquito nos discursos à tropa de rebeldes, muito diferente das fotos que temos dessa época. O ranço da selva aumenta a asma de Che, ao mesmo tempo em que nos enche os sentidos de uma pesada umidade relativa do ar. Até a voz de del Toro é flaca, não conferindo autoridade ao CHE.

Pois bem, com a revolução e tomada de Havana em 1959, Ernesto já era o CHE conhecido pelos revolucionários cubanos, claro que devido à sua identidade argentina, mambos-tangos e ches que o acompanham. Como escrevi em outro texto sobre identidade, onde quer que vamos, levamos a nossa.

O que observamos nos anos de estabelecimento do novo regime cubano foi o uso da imagem que CHE conseguira. Suas entrevistas à repórter americana e aparições em jornais impressos nos mostram sencillamente um homem satisfeito com a exposição. Dizem que seus textos e ensaios não eram lá aquelas coisas como textos de origem marxiana (ou marxista, como queiram), porém suas respostas de efeito e sua vaidade discreta são aparentes em inúmeros momentos.

CHE como imagem vai se fortalecendo com essa discreta vaidade que algumas fotos transpiram e conforme registram alguns comentários de biógrafos.

A nova identidade de El CHE é de uma imagem pública, um argentino garoto propaganda do regime cubano. O Ernesto se perdeu na imagem e a diferença nunca o abandonou. Ernesto morreu, sua imagem, não. Ela vive sem ele.

Como a imagem transcende o real, a imagem de CHE se tornou a segunda imagem mais famosa no mundo, depois da imagem de Jesus Cristo.

Che Guevara olha para o nada. Sabe-se que essa imagem foi redesenhada por um artista plástico irlandês, Fitzpatrick, que retirou da fotografia de Alberto Korda, o olhar humano de "imobilidade absoluta", "raiva" e "dor" do guerrilheiro e lhe conferiu o olhar sobrehumano de mito.

Sobre essa famosa imagem de Che olhando para o nada, Jonathan Green, diretor do Museu de Fotografia da Universidade da Califórnia, em Riverside, afirma:

"A imagem de Korda se transformou num idioma ao redor do mundo.
Se transformou num símbolo alfa-numérico, num hieróglifo, um símbolo instantâneo.
Ela reaparece misteriosamente sempre que há um conflito.
Não há nada na história que funcione desse jeito."

Amém.

Um comentário:

Michele Matos disse...

Mais um Herói construído por nós. Não que ele não mereça a posição, para mim é um dos melhores.