domingo, 24 de janeiro de 2010

Para um ser vazio


Prossigo na trilogia "Para um" sem saber ao início que seria uma trilogia. Talvez até passe de três, quem sabe...daí se tornará sequência como nos filmes.
Gosto de reler meus textos antes de começar a escrever um novo, talvez na tentativa de encontrar pontos a arrematar, ou mesmo descobrir o que me demove 'entrópicamente'.
Constatei que venho escrevendo sobre esvaziamento e noções de como lidar com ele. O famoso vazio que já veio de brinde quando nascemos. Literalmente nascemos vazios e vamos, vida à fora, preenchendo o oco que ainda não ocupamos.
Uma de minhas teorias cotidianas esdúxulas, mas verossímel e aceita por algumas pessoas é de que cada ser humano precisa ocupar todo o espaço que sua condição biológica lhe deu. Conforme crescemos, nosso espírito precisa ocupar o invólucro preestabelecido, o corpo e, se possível, transcendê-lo.
Se somente ocupamos de forma precária nosso corpo, somos pessoas com algum espírito. Se transcendemos a embalagem que nos foi destinada, desenvolvemos ânima e migramos para a dimensão do que é humano realmente.
Animais possuem espírito, mas somente seres humanos se preocupam com outros seres humanos. Podemos permanecer a vida inteira no âmbito animalesco da sobrevivência, lutando e competindo por coisas que desaparecerão quando partirmos. Se agimos assim, a vida perde o sentido e as coisas começam a serem colocadas no lugar do espírito. Queremos ter, queremos poder, queremos parecer.
Já quando ultrapassamos, break on thru to the other side, passamos à dimensão estética e ética, deixamos o corpo e as fantasias de potência. Na esfera estética está o humano. Está a beleza ao lado da tragédia. Está o ser, o saber-se impotente, a dor. Nos tornamos maiores que a embalagem, porque aceitamos nossa condição trágica humana e passamos à dimensão simbólica, abstrata e verdadeiramente lúcida da vida e da existência.
É lá que os filósofos perambulam. Os loucos divinos e as crianças que não foram corrompidas. É na esfera estética que sentimos e verdadeiramente amamos as imperfeições, as faltas e ausências. Perdoamos aqueles que nos abandonam e esquecemos as mesquinharias e pobrezas de espírito tão em moda. Amamos o silêncio.
Alguns chamam essa transcendência de aura e podem vê-la. Ficam maravilhados e procuram tocar, nem que seja a barra da túnica do ser aurático.
Como deixar de ser imediatista e animalesco e passar à ser humano?
Com a Vontade, que é divina, enquanto expressão da alma humana.


Shalom!

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