domingo, 30 de agosto de 2009

Cristóbal Columbus



Parlez-vous Français?
Non, monsieur.
Je ne parle pas Français.
Mon vocabulaire c´est petit, monsieur.
C´est ça!


Você é competente? Em quê?

Afinal o que é competência?
É conhecer, desenvolver habilidades e realizar.

É muito bom ser surpreendido em uma situação desafiadora e você reagir com suas competências e se sair relativamente bem.

Ser desafiado, querer avançar em conhecimento e em espaços deveriam ser desejos de todos os seres humanos.

Esta semana assisti de novo ao filme "1492- Conquest of Paradise" e sempre é bom pensar em Cristóvão Colombo, genovês, navegador, estudioso das grandes teorias náuticas e físicas que indicavam a existência de terra navegando em linha reta à partir da Europa.

Colombo foi um dos grandes que me marcaram na adolescência: sabia, desenvolveu habilidades e agiu. Desafiou o oceano e as regras da época, porque intuía que a terra estava lá.

E pensar que uma embarcação era como uma casquinha de ovo à mercê das intempéries e sobre toda a energia dos oceanos.

O ato grandioso de Colombo não foi chegar à terra do outro lado do Atlântico. Isso foi realizar.

O que foi grande em Colombo foi quebrar os dogmas da época sobre monstros e o fim dos mares, sobreviver à Inquisição, persistir até conseguir apoio da rainha de Castilla y Aragón e articular os interesses da coroa e igreja ao seu projeto de chegar às Índias.

Trouxe o Novo Mundo como hálito de redenção ao Velho.

Quando penso em competência, penso em Cristóbal Columbus.

Lá, depois da curva, o que é que tem?

Au revoir.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tércio & Elvis


Suspicious mind. Love me tender. You are always on my mind.

Minhas fases revival sempre vão e vem e, neste último período, tenho recebido as visitas de minhas primas e primos em meu orkut, deixando recadinhos e revirando minhas fotos nos álbuns.

Relembrar os momentos da infância é se alimentar de afeto e aconchego para, então, voltar olhar para o futuro.

Devido aos encontros virtuais de nossas memórias de primos, minha viagem ao passado me trouxe Tércio & Elvis.

Ouvindo A little less conversation dois dias atrás, me dei conta de que Elvis e Tércio estão vinculados em minha lembrança. Mais que vinculados: um não existe sem o outro.

A última vez que vi meu primo Tércio já faz alguns bons 20 anos.

Ele já não era mais o garoto gordinho do qual me lembrava. Estava homem e com um ar semelhante a minha avó Maria Gimenes.

Tércio era terrível e inquieto. Sempre aparecia com umas tiradas absurdas ou estórias malucas, invertidas. Tirava um barato de tudo, fazia a gente ficar com raiva ou vexada pelas troças que pregava. Era raro um momento de conversa "normal" com ele.

Eu tinha 10 anos, ele uns 12 e conversa não existe entre crianças dessas idades, ele já pré adolescente. Meu primo Tércio era surreal para mim, garota tão inibida e sem graça que eu era. Em meu álbum do orkut existe uma foto em que eu e ele éramos "casal" de honra no primeiro casamento da prima Priscila. Eu com 4 anos e ele com uns 6 anos. Imagine: os dois doidinhos pra largar a mão do outro! Que micos fazem a gente passar, né, mãe?

O Tércio era uma incógnita para mim. Eu não o acompanhava e, nem de longe, eu o entendia.

O que ele não sabe é que onde Elvis está, ele está junto. Para mim, claro.

A coleção de LPs de Elvis Presley que ele tinha àquela época era algo fenomenal para 1976. Ele se orgulhava de ter TODOS os Long Plays gravados até então (e olha que muita gente que está lendo este post não sabe o que é Long Play). Eu olhava aquelas capas coloridas, ouvindo o que ele dizia e flutuava nos ares de minha total ignorância de criança.

As capas de LPs, as músicas que eu ouvia, os macacões ultra-sexies que Elvis usava, com aquelas costeletas másculas toda vida, foram sendo amalgamadas às lembranças de Tércio.

Hoje entendo que a inteligência dele estava lejos da minha à época. Era demais pra mim.

Tércio, meu querido primo: dedico à você este post, sem saber bem ao certo onde você está aí em Santa Catarina e como está a situação de vocês após as enchentes.

Espero que goste das lembranças ternas e da pequena homenagem.

O tempo passa, a gente envelhece por fora, mas carrega um oceano de boas lembranças por dentro, lembranças que nos mantém vivos e aquecidos!

Aloha!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Camiños de hierro


La estoria de mi familia es toda compartida com la estoria de los trenes.

La familia Costa y la familia Prado Veiga desde el comienzo de sus vidas en Brasil estuvieron cerca los trenes y las carreteras de hierro.

El sonido del tren, la gente que ia y venia, el desarollo de pequeñas ciudades através del tráfico de gentes y cosas por los trenes.

Fue con gran orgullo que mi bisabuelo Firmino Prado Veiga (en la foto) empezó dedicarse al trabajo en los camiños de hierro de un pequeño pueblo nel interior de São Paulo.

Su traje era como um aparato de honor. Su trabajo era como um compromiso con el destino del pais.

Identicamente mi bisabuelo Caetano dedicavase al trabajo en la estación de trenes en Casa Branca. Son millones de historias de la estación, las personas del pueblito, sobre el comportamiento de mi bisabuelo, tan controvertido.

Mis dos familias desdoblaron los camiños de hierro de São Paulo.

A lo mejor tengo historias de camiños y destinos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Orient Express Route: Spiceries´ Power




A alimentação pode servir para inúmeros fins: manter o organismo vivo, ser uma rotina enfadonha ou motivo de negociação entre mãe e filho. Pode ser ainda um sacrifício ou um prazer tão grande que escraviza alguém.

Meu filho Davi dizia outro dia que o mais importante no alimento é o cheiro. É ele que vem primeiro, que cativa você e te deixa em transe alucinatório até que o objeto desejado seja degustado.

São experiências mágicas, transformadoras sentir o cheiro da comida sendo preparada, da alcaparra na carne, do alecrim, manjericão e óregano, do bolo assando, da goiabada sendo derretida, do chocolate escaldando no creme de leite e virando trufa, sem falar no café coando e silenciosamente nos torturando com seu cheiro hipnótico, muito melhor que seu gosto. Como pode? Beber café é frustrar-se ao infinito. Ele não corresponde ao seu aroma entorpecente.

O prazer do aroma e da degustação transformou o mundo, desenvolveu a navegação, criou comércio entre o mundo ocidental e o oriental. Podemos afirmar que somos fruto da corrida desenfreada pelas especiarias. Quem nunca estudou na escola que a circunavegação do mundo se deu em função da descobertas de novas rotas até as especiairias, como tentativa de quebrar o monopólio árabe, muçulmano?

E pensar que os grandes mercadores venezianos e genoveses enriqueceram aos montes ao transportar canela! Hoje é algo tão trivial que nos aleja deveras de seu passado histórico.

Se você já reparou um dia, os árabes utilizam grãos e especiarias na culinária há séculos. Na Índia a comida tem cores e aromas tão magnetizantes, quanto o cenário do país e suas cores saturadamente harmoniosas.

O livro Especiarias & Ervas Aromáticas: História, Botânica e Culinária, de Jean-Marie Pelt, nos conta como os depósitos egípcios há 2.000 anos antes de Cristo ficavam abarrotados de canela, cardamomo, ébano, gengibre, como se fossem cofres repletos de ouro.

Os gregos, na era clássica, costumavam degustar comidas exóticas preparadas com um mix de vinho tinto e inúmeras especiarias, verdadeiras iguarias culinárias. Desde muito primitivamente as especiarias estão ligadas ao refinamento.

Na era medieval, servir banquetes com pimentas, açafrão, cúrcuma, pápricas era sinal de poderio econômico e estatus social. Somente nobres utilizavam sementes e pós, que valiam seu peso em ouro.

Com o tempo e com a invasão do mercado por inúmeros mercadores (após 1500 d.C.), como tudo que há em excesso acaba virando commoditie, as especiarias passaram a ser mais utilizadas nas culinárias regionais européias e se popularizam. A Espanha começa a produzir açafrão, por exemplo, e os mercados migraram para outros objetos de desejo (talvez escravos para as terras que produziam açúcar).

Degustar pode ser uma experiência tão potente, quanto uma montanha russa ou um body jump. Já demonstro pra você!

O contato com o diferente, com o exótico e aromático mundo oriental deixou os europeus reféns de um grande poder mágico: o poder do olfato, da visão e paladar gustativo.

Você que come arroz com feijão, por exemplo, já experimentou colocar curry no arroz e folhas de louro no seu feijão? Ah! Você pode me dizer que Arroz ao Curry é coisa de grãfinos e não é comida para o dia a dia.

O curry irá te custar uns 0,10 centavos de Real e trará um aroma indiano à sua segunda-feira, além de uma cor estupenda e vibrantemente amarela. O louro custa igualmente e foi planta utilizada para coroar atletas que se igualavam aos deuses, vencendo os jogos nas Olimpíadas gregas. Além de presentear você com um sabor ligeiramente ácido e verde.

Sim. Sabor tem cor, sim! E à isso damos o nome de Sinestesia!

Degustar um Kolhapuri Kombdi ou frango com gergelim, coco, sementes de papoula, pimentas, cúrcuma e com uma pitada de cravo em pó e canela, pode ser uma viagem sideral.

Os sabores são registrados em diferentes partes de nossa boca: a língua pode captar o sabor doce em sua ponta, a acidez em suas bordas, o amargor na parte inferior, próximo a garganta e no meio percebemos o sabor salgado.

Comer uma comida indiana com páprica picante, coco ralado, mostarda, curry, canela e cravo em pó, faz com que seu cérebro seja bombardeado pelos sabores e estímulos em diferentes partes de sua boca e língua. Não tem adrenalina melhor!

Costumo dizer que o sabor explode em nossa boca, como se fosse uma chuva de fogos de artifícios. Uma comida pode ter um sabor ao início e outro ao final do contato com sua língua e as conexões entre eles fica lá com nosso cérebro, todo espezinhado pelos aromas, cores e sabores.

As mães sempre falam para não brincar com a comida, mas degustar um chocolate com canela, um bolo molhado com leite e cravo em pó ou um estupendo bife au poivre , como faz meu querido filho João Caetano é uma brincadeira extasiante!

Sempre brinco que as bruxas nada mais eram que cozinheiras.

Ou será que as(os) cozinheiras(os) é que são bruxas(os)??

Aproveite e assista ao filme ESTÔMAGO, do diretor curitibano Marcos Jorge, para entender o que é poder.

Ci vediamo presto!

Realidade, passe amanhã!




Vivemos como em sonho.

Para seu domingo, que começará antes do meu, deixo a reflexão sobre "Life is dream".

No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan
y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas
al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.


Federico Garcia Lorca - Ciudad sin sueño - Nocturno de Brookling Bridge


Soon, be right back!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Che, el Argentino.



Ernesto Guevara era um homem comum. Um argentino comum, como os argentinos.

Tinha sonhos, ambições e um lado humano aguçado: escolheu ser médico pelo serviço às pessoas, por sua doença incurável ou até mesmo escolheu ser médico pelo status. Não sabemos.

Sua imagem é forte, sempre trajando uniforme miliciano e ao empunhar os famosos charutos cubanos, adicionava mais força ainda à imagem.

É isso.

Ernesto de la Sierna Guevara criou uma imagem de si.

Ao deixar Buenos Ayres em uma motorcicleta para conhecer a Améria Latina era ainda "el fuser", porém, ao se deparar com as realidades, continente acima, vai sendo transformado por elas e sua identidade vai mudando.

Isso é fácil observar no filme "Diários de Motocicleta" de Walter Salles, descontando o fato que El CHE era um homem grande e robusto e nosso querido ator Gael Bernal é franzino e baixinho. Talvez isso ajude na construção dessa identidade imagética: de franzino à robusto durante a tranformação de homem à imagem.

Ernesto se transforma ao ter em mãos a literatura de José Martí. Ernesto reflete sobre a realidade que vê. Ernesto sente e vai mudando de atitude.

Já no filme "CHE, el Argentino" de um diretor americano e produção de Benício del Toro (que estrela o filme), vemos o CHE robusto, mais próximo do real. Destaque dou ao Raúl, irmão de Fidel Castro, "coadjuvado" por um Rodrigo Santoro feioso e com poucas falas em espanhol para não demonstrar sua pouca habilidade com a língua. Pobrecito!

A selva tropícal úmida, arrastada e pegajosa é a tópica do filme que retrata a tomada de Sierra Maestra, início da Revolução cubana. Novo desconto deve ser dado ao diretor que "tentou" usar técnicas de documentário e "real time" no filme. A parte mais interessante foi a registrada em P&B com cenas com foco excentrado e algum movimento folhetinesco, como um documentário.

Já a parte colorida era como a selva cubana: úmida, arrastada e pegajosa. Até Che Guevara era flaquito nos discursos à tropa de rebeldes, muito diferente das fotos que temos dessa época. O ranço da selva aumenta a asma de Che, ao mesmo tempo em que nos enche os sentidos de uma pesada umidade relativa do ar. Até a voz de del Toro é flaca, não conferindo autoridade ao CHE.

Pois bem, com a revolução e tomada de Havana em 1959, Ernesto já era o CHE conhecido pelos revolucionários cubanos, claro que devido à sua identidade argentina, mambos-tangos e ches que o acompanham. Como escrevi em outro texto sobre identidade, onde quer que vamos, levamos a nossa.

O que observamos nos anos de estabelecimento do novo regime cubano foi o uso da imagem que CHE conseguira. Suas entrevistas à repórter americana e aparições em jornais impressos nos mostram sencillamente um homem satisfeito com a exposição. Dizem que seus textos e ensaios não eram lá aquelas coisas como textos de origem marxiana (ou marxista, como queiram), porém suas respostas de efeito e sua vaidade discreta são aparentes em inúmeros momentos.

CHE como imagem vai se fortalecendo com essa discreta vaidade que algumas fotos transpiram e conforme registram alguns comentários de biógrafos.

A nova identidade de El CHE é de uma imagem pública, um argentino garoto propaganda do regime cubano. O Ernesto se perdeu na imagem e a diferença nunca o abandonou. Ernesto morreu, sua imagem, não. Ela vive sem ele.

Como a imagem transcende o real, a imagem de CHE se tornou a segunda imagem mais famosa no mundo, depois da imagem de Jesus Cristo.

Che Guevara olha para o nada. Sabe-se que essa imagem foi redesenhada por um artista plástico irlandês, Fitzpatrick, que retirou da fotografia de Alberto Korda, o olhar humano de "imobilidade absoluta", "raiva" e "dor" do guerrilheiro e lhe conferiu o olhar sobrehumano de mito.

Sobre essa famosa imagem de Che olhando para o nada, Jonathan Green, diretor do Museu de Fotografia da Universidade da Califórnia, em Riverside, afirma:

"A imagem de Korda se transformou num idioma ao redor do mundo.
Se transformou num símbolo alfa-numérico, num hieróglifo, um símbolo instantâneo.
Ela reaparece misteriosamente sempre que há um conflito.
Não há nada na história que funcione desse jeito."

Amém.

domingo, 9 de agosto de 2009

Please, leave your message.


Escrevo mensagens em uma garrafa.
Permita-me saber se você leu e gostou. Ou se não gostou.
Preciso saber se me distancio demais em minha ENTROPIA.

Please, leave your message!

Pais e mães solteiros


Vivemos uma época em que ser solteiro virou opção de vida.

Ontem eu li uma matéria que falava sobre mulheres solteiras e uma delas disse: "sou solteira, o que é difente de estar solteira".

Ser solteira é escolher a vida dessa forma e estar solteira é um estado de transição, enquanto se espera outro alguém chegar. Outro alguém que se encaixe no seu sonho, como disse Cazuza.

Há algumas semanas uma revista publicou matéria de capa sobre o aumento de pessoas sozinhas que trocaram os amigos reais por amigos virtuais. Claro que as faixas etária e socioeconomica são as mesmas da matéria de ontem.

Conviver com outras pessoas sempre foi difícil. É só pensarmos em nossos avós e quando diziam sobre a dureza da vida e da necessidade de emprestar dinheiro, por exemplo. Sempre fui de família pobre: meu avó paterno moldou calçadas e praças da cidade de São Paulo com as mãos e meu avô materno era capataz de fazendas.

As pessoas dos séculos XIX, XX tinham personalidade. Explico: ao emprestar dinheiro de alguém a pessoa empenhava a palavra e a honra. Aquilo que a gente ouve sobre "tirar um fio da barba". Hoje, ao ouvir isso as pessoas riem sobre a ingenuidade em se acreditar no fio de barba de alguém como empenho de compromisso para pagar a dívida. Porém naquele época isso significava a honra empenhada.

Hoje as pessoas não sabem o que é honra. Nem o que é dignidade e compromisso moral.

Você já se ocupou em pensar sobre essas três palavras?

Eu estava falando com meu filho ontem sobre sermos moralmente guiados e o quanto isso nos distancia dos demais. Acabamos sendo os "chatos" ou os "radicais" onde vamos. Moral não é aquela da igreja que censura a expressão humana.

Moral são os princípios pelos quais se pensa a vida humana e tudo que a dignifica e honra. Pessoas se alimentando do lixo é imoral, bem diferente de se dizer que o adultério é imoral.

Somos moralmente guiados, quando não aceitamos a indignidade humana, a falta de respeito pela vida e existência de todos. Se o comprimento da saia está curto ou se as pessoas não se comportam isso é falsa moralidade ou moralidade burguesa e invenção de pessoas que se dizem puritanas, o que ninguém é, basta lembrar dos escândalos de padres pedófilos no mundo todo.

Ser solteira hoje tem a ver com a decisão de não aceitar a falta de dignidade e de compromisso que se estabeleceu como norma. Relacionar-se com alguém nunca foi fácil e as pessoas se sufocam em casamentos que são fugas da realidade, como se isso resolvesse alguma coisa.

Casamentos hoje ainda são arranjos financeiros, como sempre foram desde a época em que a família escolhia o noivo e as posses da família dele, para não perder a riqueza com um casamento que poderia falir economicamente a família da noiva.

Hoje é um arranjo para pessoas que ganham pouco e querem muito e fuga emocional da vida de batalhas lá fora.

A formação da personalidade das pessoas passou por profundas alterações desde a revolução industrial e as transformações do capitalismo. Conforme as relações sociais mudaram para relações fragmentadas (muito em função da Divisão Social do Trabalho), as pessoas começaram a mudar, de acordo com o acesso que tinham à sua parcela na sociedade.

A família perdeu a força, porque pai e mãe foram para a rua trabalhar. Os exemplos familiares e morais deixaram de ser transmitidos pelos pais e passaram para a escola ou a empregada doméstica que cuidava dos filhos. E pior ainda, para a televisão.

Somos uma geração sem personalidade.

Não sabemos o que é ter caráter e palavra. Somons fragmentados, assim como os processos de fabrição de massa de tomate: cada um faz uma parte, para não dominar a compreensão do processo como um todo.

Talvez a legião de pais e mães solteiros de hoje seja uma forma de rebelião contra a falta de personalidade e moralidade vigente.

Talvez seja somente um reflexo de personalidades frágeis que não tenham estrutura suficiente para a convivência.

Talvez seja um movimento altamente narcísico e encapsulado, de evitação do contato, da vida compartilhada.

Talvez, ainda, possa ser o último brado da autonomia individual daqueles que se sentem perdidos num mar de gente sem sentido e sem valor, mas que querem dar valor à sua e à de alguém mais.

Talvez possa significar muita coisa ainda.

sábado, 8 de agosto de 2009

Amorosos, guerreiros, santos e loucos: pais.


Amanhã é o dia dos pais. Este é meu pai.

Estou sem pai e sempre reflito sobre essa figura simbólica em que vários homens se transformam.

Qualquer pessoa sabe a força dessa palavra, sejam aqueles que tem pai, ou aqueles que nunca tiveram. Daí a força se desdobra.

Alguns homens anseiam pelo momento de serem pais e se saem muito bem no desempenho dessa função. Outros, nunca esperaram chegar esse dia e foram forçados a assumirem um papel social ao qual não estavam preparados ainda. Alguns outros nem sabem que são pais e não tiveram respeitado seu direito em sabê-lo.

Eu tive dois pais em um. Talvez até houvesse uma variação desses dois pais entre eles, mas isso fica difícil identificar.

Um pai era sonhador e sensível. Levava a gente pra acampar no quintal de casa e mostrava São Jorge na lua matando o dragão. Contava estórias e mais estórias. Cantava umas músicas estranhas em espanhol e italiano, que descobri depois quais eram . Contava causos da infância dele, sempre envolvendo alguma expressãozinha em espanhol. Levava a gente pra ver um ninho de beijaflor que ele havia descoberto. Ensinou a tocar violão, a ler partitura musical, a cantar e fazer duetos. Ele aprendeu isso sozinho. Era um pai, que como filho, chorava ao lembrar de sua mãe e pai que moravam longe.

O outro pai era duro e cruel. Era severo e intolerante. Se algo acontecesse fora de sua aprovação, era surra na certa. Surra com chinelo, varinha, cinto, o que fosse. Era calado, tinha dores de cabeça fortes e ficava trancado no quarto.

Eu nunca sabia quando um pai sairia e daria lugar ao outro. Acho que nem ele sabia.

Com 17 anos eu queria por tudo na vida sair de casa e me livrar das proibições exegeradas desse pai severo. Ele dizia " estamos no mundo, sem sermos do mundo!" e eu ficava doida, porque o que eu mais queria era ser normal, como todo mundo e estar no mundo, sim. Claro que o que ele dizia era que éramos diferentes, por sermos epiritualistas e não "mundanos", mas eu não entendia isso na época.

Despois que saí de casa era meu pai quem me ligava para saber de mim, da minha vida e de minha nova família. Era sempre dele a iniciativa em ligar, apesar de minha mãe proibí-lo de usar o telefone e gastar dinheiro. Ele telefonava assim mesmo, com a voz embargada, com sonzinho do choro engolido. Choro de preocupação e saudades misturadas. Era o pai doce.

Ele me disse coisas duras, ásperas, criticando minhas escolhas, assim como me disse coisas calientitas e amorosas, cheias de preocupação e carinho. Com o tempo ele foi mudando, assim como eu mudei e as críticas cederam para uma relação mais carinhosa e de saudades, já que eu, em 21 anos, havia voltado a morar perto dele por apenas 4 anos. E cuidei dele sempre que precisou.

Meus dois pais foram se calando com o tempo.

Com 60 anos ele adoeceu e só então soubemos que a vida inteira ele sofrera de uma doença psicoafetiva que fizera todos nós sofrermos com ela. Ora ele estava em delírios e era divino, doce e amoroso. Ora ele estava em depressão profunda e era tirano. Daí ele ter sido dois pais: o distúrbio bipolar havia feito ele se tornar dois em um.

O tratamento durou a vida dele. Com o tempo foi deixando de ser quem era. Nos últimos anos já não cantava tão frequente quanto antes e nem tocava mais a flautinha doce que eu comprei pra estudar na escola e havia abandonado meses depois. A flautinha havia ficado sob a custódia dele desde então.

Aos 72 anos ele escreveu um texto que seria um livro e atestou que não chegaria aos 73 anos. Nessa fase só ouvíamos o som de seu chinelo sendo arrastado pela casa, pra lá e pra cá. Ele emudeceu, deixou de ir à igreja como sempre fizera e brigara tanto para que fizéssemos. Dizia que a igreja havia se desvirtuado e virado mercado. E ele estava certo.

Aquele homem ansioso que sempre lutara contra a incerteza da vida e a insegurança de não ter o que dar de comer aos filhos no mês seguinte, estava entregando os pontos devagar.

Foi com ele que eu aprendi a dizer "meu amor" para meus filhos. Aprendi a dizer "meu anjo" e a ser ansiosa se eles saem e se demoram.

Foi ele quem me ensinou quão preciosos são os filhos e o quanto a gente pode sofrer por eles e ainda assim aguentar o tranco. Amá-los e deixá-los ir, apesar da dor que isso pode causar. E mesmo longe, deixá-los sempre saber que os amamos.

Incondicionalmente.

Meu pai que eram dois, me ensinou a ser sensível e observadora. Me deixou como legado a inteligência, perspicácia e iniciativa. Foi santo e louco e me orgulho dele integralmente.

Exatamente um mês antes de completar 73 anos, como ele havia predito, ele sai do coma induzido para o tratamento de leucemia e foi para outra esfera, outra dimensão. Esta semana, no dia 03 de agosto, contei os 4 anos em que estou sem ele.

Os pais talvez não saibam a força que tem. Em suas lutas diárias talvez não se apercebam que é em suas fraquezas que são fortes e que se tornam tão presentes dentro de nós, filhos.

Ser pai é se tornar tão grande somente por ter recebido esse nome.

E nossa função como filhos é torná-los heróis imortais.

Salve os pais amorosos, guerreiros, santos e loucos do mundo!